No Dia Em Que O Tempo Parou

 Eduardo Valente

No dia em que o tempo parou

Cruzavam-se nossos olhares

Meu olhar a olhar o teu olho

E teu olho meu olho a mirar

E ali perto, num lago, a pescar

Um martim pescador reclamava

“Faz o tempo voltar a correr

Minha fome não pode esperar!”

 

Quando o tempo parou foi por causa

Do momento em que nosso olhar

Num contrário a todas as leis

Fez o tempo esquecer de passar

E num jogo, a bola gritava

Bem em cima da risca do gol

“Faz o tempo voltar a correr

Que meu time precisa ganhar!”

 

Foi no dia em que o tempo parou

Nosso olhar se tornava eterno

Corrompia a razão e a certeza

E fazia do olhar o infinito

E os amantes que não mais se olhavam

Pois queriam seus olhos cerrar

Suplicavam, num terno pedido:

“Não, não cesses, que estou a beijar!”