Imperfeito

 Eduardo Valente

De vez em quando, gosto de gravar uma música voz e violão e enviar para algumas pessoas queridas.

Sempre apreciei o momento de cantar estórias e contar canções e já há quase cinco anos morando no distante Canadá a gente sente a falta da convivência diária com a família e amigos. A pandemia terminou por distanciar os amigos geograficamente mais próximos também. E uma canção sempre aproxima.

No começo, chegava a gravar pelo menos umas cinco vezes, porque nunca saia perfeito. Sempre tinha algum barulho na casa, o cachorro latia, uma respiração na hora errada, uma desafinada, enfim, algo que deixasse aquele momento menos que perfeito.

 

Mas, aos poucos, a ficha foi caindo. Lembrei-me do tempo que me colocaram pra reger o coral da igreja. Quem conhece coral de igreja sabe que não é o foco a perfeição, mas a congregação e a cumplicidade entre os cantantes. E toda vez, sem exceção, que nos apresentávamos, a resposta era uma só: foi perfeito. E não é que tinha sido mesmo? Não pelos erros, que sempre eram muitos, mas pelo resultado: sempre havia alguém que precisava exatamente daquilo. Com o Boca Santa, minha saudosa banda gospel, era a mesma coisa. Muito pior seria se não tivéssemos cantado naquela noite. É melhor ser imperfeito e acontecer do que não ter acontecido.

 

Nesta matutada, queria dizer pra você não esperar a perfeição. Ela não virá. Ou melhor, não importa a sua perfeição, sempre soará perfeito para o destinatário dessa tua mensagem.

Se não souber cantar e tocar, não tem problema, ou "oi" resolve ( ou um "me desculpe", vai saber ). Pode ter certeza de que tem alguém aguardando ansiosamente a tua imperfeição.

 

O que você está esperando?