Projeto Gênesis

 Eduardo Valente

Estava confirmado. Os habitantes do quinto planeta tinham seus dias contados.

parte 1 - o fim

Mais do que nunca as anomalias de sua órbita forçava-o a se expandir, colocando o seu oceano de amônia em contato com o magma incandescente interno e, conseqüentemente, explodindo o planeta.

A notícia se espalhou rapidamente e não havia quem deixasse de demonstrar terror e ficar chocado. O fato de não terem mais que dois ciclos de existência abala até mesmo os seres mais preparados. Não era o caso deste povo, pois séculos de paz, bonança e banimento de doenças os tornaram inadequados a situações novas. Com todos os problemas vitais banidos há milênios, a existência do povo era restrita ao simples existir. O Planeta era agora um objeto de plástico e seus habitantes pouco mais que autômatos.

Nenhum ser inteligente atreveu-se a perder o horário em que o Ministro Supremo iria aparecer na holoTV; foi o discurso mais tétrico que o Planeta tivera notícia. Nem o pronunciamento do ciclo de 4562, quando o Planeta estava em guerra mundial pela quarta vez, foi tão avassalador. Dessa vez não era um ou outro povo que estava à beira da extinção: era um planeta inteiro! O único daquele sistema solar com vida inteligente e um dos mais avançados do universo conhecido. No discurso, foi a vez do Ministro Supremo evidenciar que o problema era insolúvel: não conseguiu terminar o discurso e, mesmo com drogas tranquilizantes, não conseguiu resistir e caiu em coma, não aguentou o stress e sua inteligência brilhante estava destruída para sempre.

A reação a isto foi imediata: nunca teve-se notícia de tantos suicídios e saques. O Planeta mergulhara num período de barbárie total e o caos imperava agora.

Um grupo de trinta cientistas, tentando achar uma solução para aquele desastre iminente, foi confinado na ilha Moarea, inacessível aos veículos anti-G, por causa das tempestades magnéticas que impediam a formação do anticampo. Somente com um hidroplano movido a energia química conseguia-se chegar na ilha.

Os cientistas, considerados os melhores de toda a civilização, aceitaram de bom grado o confinamento e começaram a trabalhar tão logo chegaram à ilha.

Após semanas de jornadas de até vinte e duas horas diárias, o grupo chegou a uma solução, denominada Projeto Gênesis. Tinha como objetivo construir uma nave cruzadora de seis mil e oitocentos metros por dois quilômetros, que levasse nela todo o conhecimento científico, social e histórico do Planeta, sua cultura e algumas espécies de seres inferiores.

Um ciclo já havia se passado e a construção da nave estava chegando ao fim. Era um trabalho árduo. Mesmo com a imensa tecnologia adquirida em milênios, a nave demoraria pelo menos mais meio ciclo para estar em condições de partir, incluindo-se nisto a colocação das espécies inferiores e o estabelecimento de um ecossistema interno.

Um quarto de ciclo depois, a nave já estava iniciando seu processo de rotação, que possibilitaria uma simulação de gravidade dentro dela. Este processo era necessário porque a energia necessária para gerar gravidade nela por meios artificiais era grande demais para ser viável. A nave chamava-se Armagedom, numa alusão às antigas lendas sobre o fim daquele mundo e assemelhava-se a um ovo com oito potentíssimas antenas na linha equatorial e dois coletores retráteis no eixo de rotação. As antenas serviriam para emitir uma mensagem de socorro aos povos mais próximos, mas que seriam praticamente inúteis a curto prazo, já que o povo mais próximo em condições de ajudá-los eram os Iketha Mastil, situados a 23 parsecs de distância! Maldita hora aquela que o Conselho Intergalático proibira a evolução das pesquisas de hiperespaço controlado... Se fosse utilizado com a teconologia atual, poderia arremessá-los a uma estrela de fase final, de acordo com a teoria de Rothstung.

Tudo pronto. A Armagedom estava com sua rotação ideal e todos os elementos em ordem. A princípio lentamente e depois mais rápido, ela se elevou como um tributo monumental àquela raça, última homenagem a um planeta prestes a ser banido do Universo, mas não da memória e do coração dos trinta escolhidos.

"As erupções começaram !". Foi com lágrimas nos olhos que aqueles cientistas observavam os últimos momentos do Planeta. Estavam a meio milhão de quilômetros apenas e foi preciso levantar o escudo protetor magnético para que a explosão não os vitimasse também. Era o "canto do cisne" do Planeta, um último adeus aos seus filhos, que eram agora o último resquício de uma civilização extinta, a  mais gloriosa do setor 45...

Quando as ondas de choque e de luz se desfizeram, os cientistas voltaram-se então para o espaço à sua frente e todos agradeceram ao seu Deus por ter-lhes poupado. Só então tiveram a noção exata da responsabilidade a eles reservada.

A missão apenas começava...

parte 2 - destino: Geon

Depois da explosão do Planeta, Armagedom tornara-se o útimo resquício da cultura daquele povo. Era uma responsabilidade gigantesca para um grupo de trinta pessoas, que agora sentiam nas consciências os sete bilhões de habitantes mortos num piscar de olhos.

De acordo com suas pesquisas interplanetárias, havia mais três planetas naquele sistema solar capazes de abrigá-los. O primeiro, Afrodion, possuía uma flora exuberante e alguns animais primitivos. O mesmo ocorria com Geon, com a diferença de que haviam também alguns seres de inteligência menos rudimentar. O terceiro planeta, Aron, tinha como inconveniente sua atmosfera rarefeita; deveria ser sensivelmente adaptado antes de habitá-lo. Como formas de vida, tinha apenas vegetais primitivos e animais unicelulares.

Foi então convocada uma reunião para decidir qual planeta seria o escolhido. Somente dois tripulantes não compareceram pois deviam controlar a nave. A tripulação era a seguinte:

Ger 7 - Comandante Geral. Tinha 43 ciclos de idade e 22 só na profissão. Era perito em estratégia, controlando todas as operações de bordo.

Jild 3 - Perito em armas. Vinte e sete ciclos de idade, mas apesar de novo, era o maior nome em raios-craser do Planeta.

Kers 1 - Biólogo. Trinta e dois ciclos. Junto com Kers 13, descobrira o elixir da longa vida, ganhando assim fama e um lugar em Armagedom.

Kers 13 - Perito em Bioquímica. Trinta e dois ciclos de idade. Além do elixir de longa vida, ela-borara a Teoria da Adaptabilidade do genoma dos seres de Aron.

Oiko 32 - Geneticista. Pertencente à mais antiga dinastia do Planeta, deu sua contribuição pelo imenso avanço na pesquisa de clones de reposição. Vinte e nove ciclos de idade.

Atur 2 - Perito em Cosmofísica. Seu pai, Atur 1, descobrira o efeito anti-gravidade há 30 ciclos e Atur 2 foi o primeiro a usá-lo em larga escala. Tinha 35 ciclos de idade.

Rux 13 - Perito em hiperespaço. Escondido do Conselho Intergaláctico, tinha como contribuição a tecnologia de teletransporte de naves de pequeno porte direcionável. Dezenove ciclos.

Alty 22 - Após passar dez ciclos em Geon, tornou-se a moir autoridade em sobrevivência sem instrumentos do setor 45. Trinta e sete ciclos.

Norm 4 - Como Alty 22, passou oito ciclos em Aron, dando sempre a última palavra em relação àquele planeta. Vinte e três ciclos.

Cern 5 - Foi o primeiro que conseguiu sobreviver ao hiperespaço por mais de 30 nanosiclos. Piloto experiente, foi designado para conduzir Armagedom. Quarenta e sete ciclos de idade.

Cern 6 - Fruto de uma experiência bioenergética, é extremamente resistente, conseguindo sobreviver até dentro de uma estrela, apesar disso nunca ter sido testado. Vinte ciclos de idade.

Zonn 18 - Perito em Bioenergia. Foi o responsável por Cern 6. Possui habilidades parapsicológicas, tais como telecinese e telepatia. Pretende usar esta viagem para ampliar estas capacidades. Trinta ciclos de idade.

Wilt 16 - Perito em fonética. Decifrara sozinho a linguagem de metade dos animais do Planeta. Era de importância vital ao Projeto Gênesis e tinha trinta ciclos.

Farr 20 - Era o historiador mais renomado do Planeta. Tinha arquivado em sua mente prodigiosa toda a história conhecida. Com setenta e três ciclos, era o mais velho do grupo.

Jar 9 - Sendo um híbrido de planta e homem, podia comunicar-se com o mundo vegetal. No entanto, era novato em viagens espaciais. Cinquenta e um ciclos.

Quanto aos outros tripulantes, catorze eram as esposas dos demais, com exceção de Giha 2, treze ciclos, que casaria com Rux 13 quando este completasse vinte ciclos, de acordo com a Tradição. Eram chamadas pelo mesmo nome dos seus maridos, pois o voto de fidelidade psíquico ligava as mentes, tornando-os um só pensamento.

Depois de algum tempo, decidiu-se colonizar Geon, pela possibilidade de vida inteligente superior lá, o que seria de grande ajuda para os Trinta. No entanto, Alty 22 advertiu a todos que Geon poderia ter sofrido desastres muito grandes pela explosão do Planeta. O Projeto Gênesis devia se preparar para esta possibilidade...

Faltavam ainda dois ciclos para chegar a Geon e haviam-se passado quatro desde a grande explosão. As pesquisas a bordo estavam cada vez mais evoluídas. Jar 7 havia recriado o habitat do Reservatório Biológico do Planeta e Atur 2 conseguira um método, ainda primário, de viagens temporais. Rux 13 havia se casado com Giha 2 e tudo corria dentro do previsto. Mas as previsões pessimistas de Alty 22 se confirmaram: toda a vida nos três planetas estava comprometida. Só Geon poderia ser restaurado. Tanto Afrodion quanto Aron tiveram sua biosfera arruinada; de Afrodion foi varrida toda a matéria orgânica do planeta, transformando-o num deserto de enxofre e gás carbônico. Aron teve apenas sua atmosfera retirada, mas a vida que restou não sobreviveu e também transformou-se em deserto.

Era um desastre gigantesco e que, por uma felicíssima coincidência, Geon escapara: ele estava no lado oposto ao do Planeta em relação à estrela no momento da explosão. Mesmo assim, teve sua biosfera seriamente comprometida. Detalhes seriam descobertos somente quando aterrisassem lá.

parte 3 - o novo lar

Seis ciclos haviam se passado desde a explosão do Planeta quando se avistou Geon; muita coisa tinha mudado nesta esfera azul, que agora estava coberta por uma nuvem espessa, por onde a luz não passava. Geon seria uma planeta morto se nada fosse feito urgentemente, a exemplo de Aron e Afrodion.

Ger 7 decidiu então que o satélite de Geon, Loran, deveria ser usado como base temporária. Em cerca de meio ciclo a base lorana estava pronta, com seu suprimento de amônia respirável e seu ecossistema estável. Media cerca de três quilômetros de diâmetro, com forma abobadal e seria usada para a primeira parte do Projeto Gênesis: restaurar a atmosfera geoniana em tempo curto, para que as espécies existentes pudessem sobreviver.

Cern 6, pela sua incrível resistência, foi designado para inspecionar a superfície de Geon, bem como o estado do ecossistema restante. De volta a Armagedom, trouxe um relato desalentador: as grandes feras, algumas com mais de qunze metros, tinham sido extintas  quase que completamente; somente algumas que viviam nos oceanos de água puderam escapar. Quanto aos pequenos animais, bem como a maioria da flora, conseguiriam sobreviver caso a atmosfera fosse restaurada a tempo. Era um projeto audacioso, pois Geon era um planeta de dimensões respeitaveis. Desafio imponente mesmo para a tecnologia que possuiam.

Kers 1, Alty 22 e Jar 9 (quando se diz um nome, trata-se na verdade, do casal) examinaram a amostra e concluíram que demoraria aproximadamente três ciclos para que a atmosfera geoniana pudesse ser restaurada. Todos os trinta se entregariam de corpo e alma a esta tarefa, cada um fazendo o que sabia de melhor e desta maneira dentro de dois ciclos e meio Geon tinha sua atmosfera restaurada, e a luz solar voltou a visitar aquele planeta.

Era preciso deixar agora que a vida restabelecesse seu ciclo antes de partir para a segunda fase: o segundo dia.

Os Trinta então se reuniram e comemoraram; o êxito desta fase foi total, mas Farr 20 contou uma história que deixou todos calados e pensativos. De acordo com as Velhas Lendas do Planeta, um dia o Supremo Criador havia feito do Caos o Planeta e em sete rothens criou a vida. Ele prometera que um dia acabaria com o Planeta e restauraria para si aqueles que lhe fossem fiéis. De acordo com Farr 20, este dia foi o da explosão do Planeta. Norm 4 perguntou se eles tinham sido excluídos da Salvação e estavam irremediavelmente perdidos. Farr 20, com sua sabedoria, respondeu que a eles tinha sido dada uma última missão, maior que qualquer outro: a de levar a Salvação e a Palavra a seres desprivilegiados; assim, a Tradição se perpetuaria.

Jar 9 sugeriu que como ele, que havia se unido a um vegetal, todos os trinta deveriam unir-se a Geon e proclamá-lo como seu novo lar. Num brinde ao Supremo Criador, todos concordaram com isso e assim Geon, com todo o seu céu azul, ganhara mais trinta filhos que fariam o possível e o impossível para honrar seu nome.

Um brinde ao primeiro rothen!

parte 4 - o segundo dia

Com a atmosfera restaurada, Geon estava quase perfeitamente adaptado para a vida. Apesar de que as grandes feras estivessem extintas, muita vida tinha sobrevivido: era um planeta exuberante, com seus mares salgados, sua atmosfera aprazível, com ventos às vezes assustadores e vários continentes. De maneira geral, podia-se dividir os seres vivos em dois grandes grupos: os animais, de características similares às dos Trinta, e os vegetais, seres na sua maioria verde, sem movimentação aparente.

Seu satélite, Lonar, ainda não podia ser visto perfeitamente pois as nuvens de chuva carregadas que já duravam mais de dois ciclos geontes não deixavam. Mesmo o Sol parecia um borrão de luz no céu e Geon vivia numa quase penumbra. Mas este problema se resolveria  tão logo começasse a era glacial, que duraria cerca de mil ciclos geontes.

O primeiro passo a ser tomado era que se restaurasse o regime de chuvas e se diminuisse a temperatura em cerca de sete graus, a fim de que os vegetais pudessem realizar seu trabalho. Era um serviço simples, que se conseguiria com descargas vasers nas nuvens, serviço este que durou quatro horas apenas.

Durante treze ciclos geontes, ou anos, o ciclo de chuvas permaneceu instável e, quando normalizou, a vida havia prosperado e povoado os seis continentes. O clima em todo Geon era parecido, com média de 25 graus em todo o planeta e uma vasta floresta cobria cerca de quatro quintos das terras emersas.

Todo este rothen durou trezentos anos, mas valeu a pena! Era o fim do segundo dia...

parte 5 - o terceiro dia

Apesar das florestas preencherem quase todas as terras emersas, eram vegetais muito primitivos, que precisavam de muita água. Dessa maneira, as terras emersas transformaram-se após algumas décadas em imensos pântanos. Era preciso alterar geneticamente os vegetais, o que ocasionou um problema: eles poderiam interferir a este ponto na evolução daquele planeta sem incorrer em danos mais graves? Nada poderia ser dito se não fosse tentado antes...

Com poderosos campos de força, eles pressionaram as camadas internas de Geon e levantaram cerca de treze metros o nível das terras. Então iniciaram a cirurgia genética com sementes de vários vegetais: transformaram suas lâminas fotossintéticas em folhas menores e com sustentação; inseriram vasos condutores e tecidos de sustentação, além de artifícios para evitar a perda de água demasiada. Fica claro que não foi tarefa de horas, mas de séculos até que a evolução se completasse. Enquanto algumas plantas evoluiram assombrosamente, outras tiveram involução e se transformaram no que hoje chamamos  algas. Mas eram também preciosas para que a vida nos oceanos se desenvolvesse.

Era preciso agora dispersar estas sementes em todo o solo, que já dava mostras de que estava morrendo. Seus antigos vegetais, agora sem água suficiente, dizimavam-se e ofereciam amplo material orgânico para a evolução dos novos vegetais superiores.

Durou quarenta mil anos toda a etapa de fixação vegetal por todo Geon, tempo que foi vencido pelos Trinta viajando-se através dele.

Estava tudo preparado para uma das mais difíceis, senão a mais, etapas do projeto gênesis: o quarto rothen!

parte 6 - inteligências...

Estava começando o que seria a etapa mais difícil do Projeto Gênesis, e que duraria cerca de mil anos de trabalhos ininterruptos: seria criada a inteligência a partir de seres inferiores e muito mais que isso: os Trinta iam começar a jogar com probabilidades pois não seriam os únicos com capacidade de pensar em Geon.

A primeira coisa a se fazer era escolher a raça privilegiada em Geon e Kers 1, Oiko 32 e Jar 9 foram para lá pesquisar as várias raças com um bom potencial para receber a capacidade de raciocinar.

O primeiro ambiente pesquisado foram os oceanos e os seres que receberam maior interesse foram os cetáceos e os tubarões dos mares tropicais. Quanto aos cetáceos, as baleias foram rejeitadas por serem muito grandes e não poderem manipular objetos, mas deveriam receber uma cirurgia genética para melhorar a lógica instintiva. Os golfinhos foram os melhores adaptados à inteligência, mas apresentavam o mesmo inconveniente de não manipularem objetos. Os tubarões mostraram-se primitivos demais para serem utilizados.

Em terra, dois grandes grupos poderiam ser escolhidos: os primatas e os cangurus, enquanto que no ar, os seres que possuiam capacidade de receber inteligência extingüiram-se durante o cataclisma da explosão do Planeta. Talvez fosse possível recolher alguma amostrar do código genético destes para futuras experiências. Os cangurus foram rejeitados pelo fato de terem uma capacidade craniana pequena e só sobraram os primatas, um grupo relativamente numeroso, para receber inteligência.

Dentre os primatas, os homínidas se destacaram pela postura mais ereta e potencial maior para pensar. Foram separados cerca de cinco mil seres e colocados num campo atemporal. O resto dos animais teria sua evolução natural, salvo pequenas exceções, acontecendo o mesmo com os vegetais.

Oiko 32 alterou primeiramente o crânio e depois as mãos dos homínidas, e lançou trezentos deles de volta a Geon, para experiências no habitat natural. Destes, cinquenta morreram por fatores diversos, como predadores e doença. Os restantes tiveram um progresso rápido e em menos de quinhentos anos eram mais de dez mil, tendo o conhecimento do fogo e morando em cavernas encontradas. Eram essencialmente nômades e não cultivavam seu alimento, mas apresentavam uma evolução.

Os outros duzentos foram melhorados e lançados na natureza bem mais preparados. Eram capazes de viver bem mais tempo em um lugar, cultivando plantas nativas. Mas nem mesmo estes tinham conhecimento dos Trinta; viviam e davam-se satisfeitos por isto.

Um casal foi separado e colocado num jardim especial, com plantas do Planeta e em contato com os Trinta. Esse jardim, localizado em Loran, prosperou rapidamente, o mesmo acontecendo com o casal humano (foi esta a denominação dada pelos Trinta à raça iniciada pelos duzentos homínidas evoluídos).

Este quarto rothen acabou-se transformando em três etapas, porque a dificuldade foi tão grande que precisou ser dividido em procura, evolução e concretização da inteligência.

O dia mais difícil terminara e o Projeto Gênesis rumava para sua finalização. Mas muita coisa deveria ser feita até que os Trinta fizessem de seu novo lar um planeta perfeito.

Reunidos, os Trinta conversaram e comemoraram sua maior realização desde a Grande Explosão e decidiram que, tão logo quanto possível, Armagedom seria desativada e eles teriam sua base em Geon. Mas isso era só depois do Projeto Gênesis concluir-se...

parte 7 - a grande cizânia

Durante séculos, o Projeto Gênesis foi seguindo seu ritmo normal, até a grande cizânia, que dividiu os Trinta. Zonn 18 e Cern 6 começaram a discutir com os demais sobre a tentativa de evolução ainda maior da espécie humana. A justificativa que utilizavam era que se já foram tão longe com os humanos, era possível chegar ainda mais longe, aproximando-os dos Trinta. Poderiam até fazer seres idênticos aos Trinta, para que pudesse haver uma perpetuação da raça do Planeta.

A resposta foi enérgica: "Não podemos fazer isso em tão curto espaço de tempo! É preciso existir tradição e história para que a evolução seja completa. Se for realizado o novo estágio agora, teríamos poderosos seres homicidas nas mãos e prontos a destruir todo o trabalho feito."

Os dois casais não aceitaram isto e resolveram agir por conta própria. Sem que os outros percebessem, convenceram o casal humano que vivia em Loran a utilizar os aparelhos evolucionários. A operação, entretanto, revelou-se um tanto infrutífera, porque os humanos evoluíram muito pouco e, pior para os quatro, foi descoberta a verdadeira vocação dos Trinta.

Num estrondo muito forte, Ele apareceu. Todos em Loran perceberam quem era e que alguma coisa tinha sido feita de muito errada. Finalmente, no meio de uma coluna de fogo, Ele se pronunciou:

"Povo escolhido, alguns de vocês despertaram a minha ira e serão punidos por isso. Eu pretendia não me revelar pois achava que vocês eram capazes de tal empresa. Vejo agora que não. Tudo está iminentemente perdido e será preciso muito mais tempo para se conseguir os objetivos. Os culpados serão destruídos, para que saibam que Eu sou."

Dito isto, Cern 6 e Zonn 18 começaram a se contorcer e a brilhar. Seus corpos entraram em combustão e em segundos foram totalmente destruídos. Diante do pavor dos Vinte e Seis restantes e do casal humano, Ele continuou:

"Os planos foram mudados. Vocês, que permaneceram fiéis a mim, ouvirão agora tão somente o meu mandar e assim será até terminar o plano que tenho para vocês. Chamá-lo-eis de anjos e serão vocês os meus trabalhadores em Geon, que de agora em diante chamar-se-á Terra e Loran será chamada de Lua. O casal humano deverá ser banido da Lua e enviado novamente à Terra, onde andará com os de sua espécie."

O nome dos Anjos foram mudados para nomes como Gabriel, Azrael, Miguel e todos agora cumpriam única e exclusivamente os mandados do seu Senhor. Os casais foram desfeitos e eram simplesmente Anjos, os operários d’Ele. Estavam todos ainda chocados quando veio a primeira ordem: proteger o casal evoluído.

parte 8 - problemas com o novo povo

Durante anos, os humanos multiplicavam-se e enchiam a Terra. No entanto, pela semente maléfica implantada por Zonn 18 e Cern 6, os humanos eram maus. A maldade era tão grande que uma ordem terrível veio da parte do Senhor: o extermínio de quase todos os seres vivos da Terra. Seria por meio de um imenso dilúvio, dizia o Senhor.

Uma única família humana seria preservada e apenas um casal de cada espécie entraria no refúgio. Este refúgio era um grande barco, chamado de Arca, que seria contruído pelos escolhidos para abrigar todos. O resto dos humanos tratou de debochar e injuriar dos escolhidos, sem desconfiar do massacre que se seguiria.

Quando tudo estava pronto, os Anjos acionaram os mecanismos de controle climático ao máximo e começou a chover. Durante quarenta dias e quarenta noites, os aparelhos funcionaram ao máximo e a Terra foi completamente coberta por água, mesmo os maiores picos. Por toda a vastidão da superfície terrestre, só se via água e nuvem. Não fora a proteção feita pelos anjos (sempre ocultos) à Arca, esta teria sido certamente destruída pelos fortes ventos e fortes ondas que abatiam-se sobre ela.

O final da estória já é história: os humanos encalharam num monte chamados por eles de Ararat e novamente prolificaram-se na Terra. O Senhor enviou os Anjos para montarem os artifícios necessários para a obtenção do arco-íris e firmou lá a sua promessa de que nunca mais destruiria a Terra daquele modo.

parte 9 - brincando nos campos do Senhor

Os Anjos durante anos trabalhavam pela Terra, sempre seguindo as ordens do seu Senhor. A sua tecnologia foi aumentada incrivelmente e maravilhas foram feitas por eles. Os dois maiores feitos, dos quais eles se orgulhavam muito foi a abertura de um mar, chamados pelos humanos de Mar Vermelho, para que o povo passasse e logo após desabaram as águas sobre o povo inimigo. Tudo isso foi feito utilizando-se de telecinese, capacidade esta terrivelmente amplificada por tecnologia avançadíssima.

O outro feito foi muito mais difícil: era necessário parar a rotação da Terra por um dia, para que o povo escolhido ganhasse uma guerra acirrada. O principal problema era parar a Terra e o problema secundário, mas extremamente importante, era parar as coisas sobre a Terra, de modo que o mar não invadisse a Terra e os continentes não se desarranjassem. Foi construído então um novo aparelho, que criava um campo de estase gigantesco, que englobava toda a Terra. O poder de telecinese seria usado para que a batalha transcorresse sem ser afetada pelo campo.

Todos sabiam que era muito mais fácil os Anjos irem guerrear por eles, mas os planos do Senhor eram estes e não seriam mudados.

Muitos feitos foram realizados, como fogos vindos do céu, visões premonitórias induzidas em sonho, derrubadas de muros de grandes fortificações, além de muitos outros que não poderiam ser contados. Os anjos cumpriam bem seu papel, e o seu Senhor estava satisfeito.

parte 10 - a última missão

Milhares de anos passaram e o povo escolhido se encontrava escravo de um outro povo mais forte. Muitas vezes em tempos passados ocorrera isso também, mas dessa vez o desfecho seria diferente. Como das outras vezes, o povo era feito prisioneiro por afastar-se do Senhor e não dar-lhe ouvidos.

No entanto, o povo opressor agora era muito mais forte, formando um grande império, que se estendia por todo o mundo conhecido. Todos sabiam que era impossível lutar contra eles e apenas um poder maior era capaz de libertá-los.

O plano do Senhor não se resumia à uma nova libertação, mas a uma nova forma de libertação, agora perene. Era talvez um feito considerado milagroso até mesmo pelos Anjos, que não podiam compreender como tornar aquilo real. nem mesmo se estivessem milhares de anos pensando somente naquilo poderiam conceber uma só maneira de executar aquele plano. Era demais para eles!...

O Senhor sabia disso e confirmou seus temores. A maior missão seria impossível para eles, que seriam apenas coadjuvantes de um feito muito maior: a total remissão do povo escolhido!

Cabia aos Anjos anunciarem às pessoas escolhidas o fato iminente, e preparar o terreno para aquilo. Era um trabalho simples, mas o único que eles seriam capazes de executar.

Tudo pronto. Os acontecimentos todos orientados para aquela noite, naquela pequena vila chamada pelos homens de Belém. A virgem estava para dar à luz, fato que os Anjos não conseguiam conceber. Era maravilhoso demais! O povo da região foi induzido a lotar as estalagens, para que o Menino nascesse num local humilde, como mostra do poder do Senhor.

O Senhor então reuniu os Anjos. Contou-lhes que sua ajuda agora seria necessária em outros mundos, além de qualquer imaginação, para aonde, quando eles ainda não haviam nem se tornado os Trinta, era chamado de hiperespaço.

Uma festa foi planejada, que serviria para saudar o Menino que nada mais era do que o próprio Senhor feito gente. Canticos preparados, pastores convidados, animais selecionados. Uma leve aragem do norte anunciava a magia daquela noite. Os Anjos sabiam que após aquilo, deveriam rumar a novos mundos, abandonado para sempre este seu segundo lar chamado Terra.

Meia noite. Um choro de criança fez se ouvir. Nascera o Filho de Deus, o próprio Deus. Os Anjos cantavam e rejubilavam-se, tocando instrumentos e dançando, de modo que num raio de algumas centenas de metros escutava-se os sons estupendos.

Então, um a um, entraram na mini nave que os conduziria à Armagedom, cada um deles parando na porta e saudando a nova era de vida que a Terra iria ter. A porta fechou-se então com um ruído seco e a nave começou a subir, emitindo seu brilho característico.

Durante a subida, que foi lenta para que os Anjos apreciassem toda a extensão do seu lar e dessem o último adeus, a nave parecia como uma estrela cadente ao contrário que, em vez de cair na Terra, subia dela.

A milhares de quilômetros dali, três reis, de países distantes, observavam a nave a subir e perceberam que aquela estrela (pensavam eles assim...) indicava o local de nascimento do Menino, o Messias. E para a vila de Belém, rumaram confiantes.

Quanto aos Anjos, era tempo de planejar a viagem à Netina, o sétimo planeta de Koswot, a estrela verde.