Moral da História

 Eduardo Valente

Fábula é uma história onde animais falam e, na maioria das vezes, vem acompanhada de uma lição de moral: a conhecida moral da história.

Quero falar aqui sobre uma fábula que é das mais conhecidas, que toda criança, de uma maneira ou de outra já ouviu falar: A Cigarra e a Formiga.

Escrita por ... , um contador de histórias que viveu em ..., esta fábula conta a história de uma formiga trabalhadora que passa três das quatro estações do ano armazenando comida e uma cigarra cantora que passa todo este tempo a cantar e cantar...

Pois bem, eis que chega o inverno (inverno europeu! Dez abaixo de zero! Nada de quinze acima como é do nosso feitio...) e a formiga recolhe-se ao seu formigueiro enquanto a cigarra definha até morrer, pois não guardou nada para os momentos difíceis.

Moral da história: Quem trabalha será recompensado. Quem não trabalha está condenado.

A visão de uma luta entre o bem-formiga e o mal-cigarra parece óbvia, o mesmo ocorrendo ao seu desfecho. O que incomoda na história são as entrelinhas...A formiga é a trabalhadora pois sua para conseguir o ‘leite das criancinhas’, enquanto a cigarra não trabalha, ‘apenas’ vive a cantar com sua violinha.

Acabamos nós mesmos tendo esta visão simplista das coisas: trabalho é algo que sua, arte não é trabalho, artistas são vagabundos, gente em quem não se pode confiar. Isso ocorre com outras profissões; tendemos a classificá-las como desonrosas ou não, produtivas ou não, boas ou más.

Portanto, admitimos que um médico convertido continue a exercer sua nobre profissão, mas de modo algum admitimos que um artista convertido continue a ser artista ou, desgraça das desgraças, alguém que cresceu na igreja torne-se um artista, cantando músicas ‘do mundo’ ‘na noite’, ou então ‘levando a vida devassa que todo artista leva’.

Pobre de nós, formigas hipócritas, que queremos programas bons na televisão, feitos todos eles pelas cigarras! Formiga não faz arte, formiga faz pão. Se a Dona Formiga da fábula tivesse uma mente um pouco mais aberta, ao invés de incomodar-se com a Dona Cigarra sempre a cantar, financiasse seu ensaio (ser um bom artista é dificílimo!) e teríamos um inverno feliz, tanto para a formiga quanto para a cigarra. Convenhamos: três meses enfurnada num formigueiro deve deixar qualquer um no mínimo ranzinza...

O respeito devido a cada profissão deve ser evidenciado. Como não é desonra ser lixeiro, não é pecado ser artista. A intolerância das formigas (muitas vezes para ocultar sua total falta de senso artístico), com seus dogmas e frases feitas, deve ser evitada, ou chegaremos a ter comissões da verdade dentro de nossas próprias igrejas, dizendo o que é certo e o que é errado, de acordo com seus próprios corações e não com a verdade bíblica.

Vamos reescrever a fábula?