A Pesca e o Pescar

Meu nome é Pedro. Durante muito tempo, vivi da pesca e da pesca tirei minha vida, família, vivências.

Mas naquele dia em aquele que seria meu Mestre se aproximou, descobri a diferença entre a pesca e o pescar.

Porque o pescar é o barco, a rede os amigos. E a pesca é o peixe, o peixe e nada mais.

Porque o pescar é a partida e, quem sabe, o retorno. E a pesca é ir e voltar, ir e voltar, sem na verdade sair do lugar.

E quanto mais difícil o pescar, mais nos esmeramos nisto. Mas se a pesca é pouca, dias difíceis virão.

Meu Mestre me ensinou que a pesca é só de peixes, mas o pescar é o ato, é o verbo. Pode ser do que for, de homens a até mesmo peixes.

E me convidou a pescar homens! Foram três anos incríveis, os melhores que já vivi.

Mas um dia, meu Mestre foi traído por um de seus pescadores e este foi o pior dia da minha vida. Pior ainda porque o neguei não uma, mas três vezes. Tive medo, muito medo, de partir e não mais voltar.

Daí, desisti de pescar e voltei à pesca. Fixei os pés no chão e quando partia, já pensava na volta. Sem Ele, pescar não tinha mais encanto...

Três dias depois, Ele voltou. Ressuscitou! Milagre! Milagre! Fiquei muito feliz, mas vontade de pescar como antes não tinha mais...

Então ao pé de uma fogueira, meu Mestre me perguntou; "Pedro, você me ama?". Respondi que sim e ele me disse (com outras palavras) "Então, volte a pescar".

E a pergunta foi feita não uma, mas três vezes. Na terceira, Ele respondeu diferente: "Então não deixe faltar peixe".

E eu me senti triste, porque no fundo peixe não era meu forte, pescar era. Mas entendi o que me disse.

Desde aquele dia, voltei a pescar. Não sei quanto tempo tenho, nem para onde vai este mar que navego. Mas uma certeza eu tenho: estou a pescar. O peixe virou detalhe.