- Coisas da Fé
- O Contador de Estórias
- O Filho do Boiadeiro
Eduardo Valente
Era uma vez, há muito tempo atrás, um fazendeiro muito rico, com muitos bois. Morava lá em Goiás e pelas redondezas não tinha ninguém mais rico que ele.
Tinha ele dois filhos e o mais velho trabalhava com o gado, ajudando o pai. O mais novo porém, vivia sonhando em fazer outra coisa...
Um dia, ele criou coragem e foi pedir para o seu pai dinheiro para realizar seu sonho:
"Pai... eu quero a minha parte desta tua fortuna! E quero agora, porque preciso seguir minha vida..."
O pai, meio triste, meio espantado, falou que dinheiro ele não tinha e a parte dele ia ser dada em bois. Como tinha muitos bois, deu cem cabeças de gado para o caçula, que começou a preparar a viagem.
Pegou seu cavalo mangalarga, o mais bonito da fazenda. Pegou também sua violinha e disse consigo mesmo: Vou ser famos! Vou ser cantor sertanejo na capital!
E saiu ele, seu cavalo, sua viola e a comitiva de cem bois, com rumo a São Paulo.
Prá ser notado, já que ninguém dava bola prá ele, fazia o seguinte: em cada cidade que chegava, convidava todo mundo e dizia que ia ter churrasco. Matava um boi e enquanto o pessoal comia, ele tocava sua viola e dizia que estava fazendo um show.
E a notícia correu mais rápido que ele. Quando ele chegava numa cidade, já vinham para perguntar: onde vai ser o churrasco, quer dizer, o show? E o caçulinha se sentia famoso.
E assim foi, ele chegava numa cidade, matava um boi e dava um show. O povo vinha, comia, batia algumas palmas e ia embora.
Quando chegou na fronteira do estado de São Paulo, só tinha mais dez bois. Fez um show em Andradina, um em Mirandópolis, um em Araçatuba, um em São José do Rio Preto, um em Catanduva, um em Taquaritinga, um em Ribeirão Preto, um em Limeira, um em Americana e quando chegou em Jundiaí, fez seu último show e matou seu último boi.
Em São Paulo, ninguém sabia dele. fez um show sem churrasco e ninguém veio. Vendeu seu cavalo prá poder comprar alguma coisa prá comer. Depois vendeu sua violinha, que já tinha duas cordas estouradas.
Quando percebeu seu erro, começou a choramingar: "Lá na fazenda do meu pai, o peão mais pobre come muito melhor que eu. Vou voltar prá lá e pedir prá ser peão do meu pai, porque filho mesmo eu não sou mais..."
E voltou. Pedindo carona, andando, andando clandestino no trem de carga... E estava triste, muito triste...
Quando chegou perto da fazenda, qual não foi seu espanto ao ver o pai o esperando na porteira. O pai ficava assistindo a televisão e só vendo quando o filho famoso iria aparecer. Mas nunca apareceu... só agora, na estrada...
O pai correu e abraçou com tanto gosto o filho que nem deu tempo prá pedir desculpas... Mandou o capataz matar dez bois e fazer o maior churrasco que já houve, só prá comemorar. Pegou a roupa mais bonita que tinha, o chapéu de cowboy importado e colocou na cabeça do filho.
O filho mais velho, ao ver tanto auê, quis saber o que era e ficou muito bravo ao saber que o caçula tinha voltado. Foi bufando tirar satisfações com o pai...
"Pai! Eu te ajudo, eu que cuido do gado e não deixo nenhum se machucar e você nunca deu nem um boizinho prá eu fazer um churrasco com meus amigos... Agora este teu filho que fugiu, agora vem com o rabo entre as pernas e você mata dez bois pro churrasco!"
O pai botou a mão no ombro do filho e disse: "Tudo que eu tenho é seu e a hora que você quiser, pode fazer um churrasco. Mas agora, é preciso que a gente festeje, porque o filho que eu pensei ter morrido, está vivo e é hora de alegria."
E foram os três para a festa...
Hoje o Caçulinha se tornou o maior violeiro daquelas bandas e já tocou até com o Almir Sater!