- Coisas da Fé
- Boca Santa
- Oficina de Musicalidade 05 - Oficina de Instrumentos
Vamos tratar um pouco dos nossos instrumentos, que não a voz humana.
São também parte importante na música de todos os tempos e porisso mesmo devemos conhecê-los.
Instrumento: o auxiliar
O homem, durante sua existência, criou inumeráveis instrumentos. Seja ele de percussão, de sopro, de cordas, etc, o instrumento transmite algo que a voz humana não imita e auxilia-nos a melhorar a interpretação.
O papel de auxiliar do instrumento é evidente, mesmo quando temos música instrumental. O fato, como veremos mais adiante, está na capacidade de transmissão de uma mensagem. A voz fala, o instrumento, ainda que existam opiniões divergentes, não.
A Voz do Instrumento
Cada instrumento tem sua voz, que chamamos de timbre. Não é possível confundir um violão com um saxofone, um bongô com um piano. Isto é que faz com que tenhamos possibilidades quase infinitas de trabalhar a música. O que faz-nos chegar à conclusão de que a música é por si só, ilimitada.
Se você chegou a esta conclusão, parabéns, mas lembre-se de que se trata de algo básico, somente o primeiro degrau de uma longa escada com rumo às alturas.
Os músicos identificam no som quatro características importantes que englobam toda a música. São elas: o nosso já conhecido timbre, o volume, o ritmo e o tom. Como fica cada característica na visão não da música, mas da musicalidade?
No princípio era o ...
Ritmo. Uma torneira a pingar, um balanço feito de pneu velho pendurado num galho, o “velho tic tic, num eterno leva e traz” do trem, a batida do baterista do Mettallica, os tambores do Olodum. Tudo começou com o ritmo. Não havia volume, não havia duração nem altura. Somente o ritmo a marcar o tempo. E o Espírito de Deus a pairar sobre as águas. O ritmo é o tempo cantando, invadindo o espaço e mostrando onde vai cada nota, cada som. O ritmo é a lembrança de que tudo tem começo e tem fim, menos Deus, que é pai do tempo. Sem ritmo, a música desvincula-se do tempo e não sabe para onde ir, nem onde estar. Sem ritmo a música é um som somente, sem começo nem fim, e sem música também.
O ritmo é para ser usado com alegria, seja ele pausadamente lento ou alegremente rápido. Se cada pessoa tem seu ritmo, cada música tem o seu. Ao compor, ouvir ou interpretar, entenda o ritmo ou os ritmos que existem na música. Saiba que o ritmo do violão não é o mesmo do violino, mas mesmo assim os dois podem fazer coisas belíssimas juntos. Que o ritmo da flauta e o do piano são ao mesmo tempo diferentes e feitos um para o outro. É difícil compreender, mais difícil explicar, mas imensamente fácil sentir.
Alguém abaixe o ....
Volume. Somente os surdos não o distinguem. Não! Nem mesmo eles. O volume é físico, ele pressiona você, ele torna a música densa. Ele é o corpo da alma que é a música. É através do volume que demonstramos emoções fortes ou fazemos um bebê dormir.
O volume não muda a música, mas a carga de emoção passada por ela. Sabe quando você está em um consultório de dentista e aquela música suave o faz divagar e ficar calmo? É exatamente o contrário daquela orquestra a toda carga, tocando os acordes iniciais da Quinta Sinfonia de Beethoven. Quanto mais alto o volume mais imperativo torna a sua atenção à música. No ponto limite, quando seus tímpanos estão a ponto de virar manteiga, o que existe no mundo é aquela música. Torna-se com certeza desagradável, mas cumpre o seu papel:Prestem atenção em mim!!!!
Use o volume com sabedoria, peço encarecidamente. De acordo com o número de ouvintes, de acordo com o espaço disponível, de acordo com o ânimo ambiente. Nunca abuse, mas nunca fique aquém. O ponto certo, como deveríamos esperar, vem com o tempo.
Prá timbrar é preciso...
Timbre. É o sotaque da música. É um americano cantando “Corcovado”, é um brasileiro cantando “Bohemian Rapsodhy”, um francês cantando “Santa Lucia”, um japonês cantando “Guantanamera”. Todos sabem quem canta. Nas primeiras notas de um violão ou flauta, reconhecemos e não confundimos, por exemplo, com um tambor. São incontáveis os timbres, como incontáveis são as pessoas na terra. Mais ainda, porque ainda temos os intrumentos, os animais, as plantas, o mar, o vento. Tudo tem seu timbre e em cada timbre há uma diferente carga de emoção. Escute um prato daqueles de banda ou de uma bateria e compare-o com um piano. O que você sentiu? É possível usá-los juntos?
A resposta é um sonoro SIM! Em alguns tipos de comida, como o nosso pão, mistura-se açúcar e sal, do mesmo modo os timbres distantes se harmonizam. Assim, o pandeiro faz dueto com a flauta, que acabou de fazê-lo com o trombone, que está morrendo de vontade de cantar com aquele rouxinol que aparece de manhãzinha, que ontem cantou junto com a brisa. A musicalidade é que atrai estes opostos. A musicalidade é que torna o inusitado belo, o escuro colorido.
Brinque, sim esta é a palavra de ordem agora: brinque com timbres, com os dos intrumentos e com os que sua própria voz pode inventar. Exercite a musicalidade em sua forma mais divertida, timbrando.
And Last But Not Least...
O tom. Sim, este que virou até nome de músico (por sinal brilhante...), é o eterno nirvana. Parodiando a Bíblia: muitos serão cantores, mas poucos serão afinados. Por afinado quero dizer aquela característica imprecisa, vaporosa, que faz cada um que escuta diferenciar o bom do mau intérprete. É o próprio pesadelo, antes sonho de cada um que canta. Se o tom é menor a dificuldade é maior, e as notas parecem cada vez mais distantes do ideal, cada vez mais erradas, cada vez mais tristes.
O pior de tudo é que existem pessoas, iniciadas em artes ocultas, abençoadas por um Deus que sabe-se lá por quê não distribui tal dom a todos, que conhecem o tom como a um amigo, não como um conhecido, ou pior, como um trauseunte. Tais pessoas divertem-se onde a turba não sabe nem o que está acontecendo. Fazem do tom um fato, do pesadelo um sonho. São poucos, cada vez mais raros. Têm o dom (ou seria o tom?) de fazer a música mais bela, a emoção mais forte e o sonho mais real.
Resta a nós, simples mortais, curvar-nos ao que para nós é excelência e para eles é cotidiano. Praticar, praticar, praticar. Ainda na linha de paródias: “Praticar é preciso, afinar não é preciso!”.
Uma das técnicas mais usadas para chegar-se ao tom preciso é visualizá-lo. Isto mesmo! Faça uma representação visível deste tom. Coloque-o em cima de uma árvore ou embaixo de uma cama. Dê vida ao tom. Isto ajuda também para o timbre, o ritmo, o volume... Lembre-se: o cantor é, antes de tudo, um sonhador.
A Prática Leva à Perfeição
Aqui é evidente o benefício da prática. Apesar de seu coração saber o que deve fazer, sua mente querer fazer aquilo, seu corpo pode não corresponder o necessário. É preciso praticar, praticar, praticar para que o instrumento torne-se realmente como uma parte de você.
Um aviso: como na interpretação, você nunca encontrará seu limite. Isto pode ser bom, mas também pode ser frustrante. Faça com que seja bom.
Trabalhe em cada um dos aspectos, seja como um Beethoven ou como um Mozart. No princípio, não importa se você trabalha tanto com a razão, simplesmente esqueça disso e cante! Que tal no chuveiro?
Oficina
Crie um novo instrumento. Diferente de tudo que existe. Dê um nome para ele e toque uma música conhecida. Lembre-se: você é o melhor do mundo naquele instrumento, e toque como tal.
Faça um concerto com seu instrumento, e descubra tudo sobre ele. Aperfeiçoe-o sempre. Trate-o com carinho e não contente-se nunca.
Dê vida, invente toda a tradição que seu instrumento supõe ter. É delicioso inventar! Toque nele as sinfonias que Schubert queria fazer e só não fez porque não tinham inventado tal instrumento. Imagina só: Sonata da Lua Minguante em Sol Maior para Chinelofone. Este instrumento não vale, porque já foi inventado... Mas a sonata não!
Que tal juntar alguns amigos e fazer uma roda de samba com instrumentos recém-inventados? Que tal fazer uma serenata ao som de latinhas de nescau? Use a imaginação, porque cantar é bom, e você deve saber disto...