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- Parque Estadual do Marumbi/PR – No Limite
09 a 12 de fevereiro de 2002

Sexta, dia 08
A gente foi chegando, chegando e por volta das onze horas entramos no microônibus que nos levaria a Curitiba, para pegarmos o trem que desce a Serra da Graciosa até Paranaguá, numa das viagens de trem mais bonitas do Brasil.
Éramos em 23, Eu, Monserrat, Jackson, Fabrizia, Luís, Lu, Eduardo Caetano, Alan, Mário, Flávia, Renata, Camila, Solange, Gisele, Silmara, Carol, Toca, Rubão,Carlão,Emerson, Denise,Lazão e Val. Todos apertados naquele microônibus, com toneladas de bagagem, durante as seis horas de viagem até a capital do Paraná.
Íamos para o Parque do Marumbi, localizado a meio caminho entre Curitiba e Paranaguá, considerado o berço do montanhismo brasileiro. Um local repleto de opções de aventura e ideal para quem gosta de passar o carnaval em contato com a natureza.
Sábado, dia 09
Cinco e pouquinho da manhã e estávamos na estação, quando chegaram o Eduardo Alvarenga e a Rita, que tinham vindo de ônibus. Todos os vinte e cinco ali, fomos tomar um café, pois o trem sairia às oito.
Às oito, com tudo meio lotado, depois de vermos uma escola de samba mirim fazer uma batucada na frente da estação, entramos com todas aquelas mochilas no trem para duas horas de viagem até a Estação Marumbi.
O trem é um show à parte. Correndo pelas encostas da Serra da Graciosa, descortina paisagens incríveis de despenhadeiros e montanhas, com direito a túneis esculpidos na rocha e cachoeiras ao lado. Tudo muito bonito, muitas fotos tiradas e assim chegamos ao Marumbi. Lá, já nos agrupamos e enquanto o trem continuava seu trajeto até o mar, o guarda-parque, apelidado por nós de Seu Bigode, nos instruía sobre o que se podia e o que não se podia fazer ali. Meio assustados com o tanto que não se podia, resolvemos logo, logo arrumar nossas barracas.
Com as mochilas na costas e na frente, seguimos por uma trilhazinha até uma série de clareiras onde era permitida a montagem de barracas. Divididos em quatro clareiras, todos os vinte e cinco conseguiram se arrumar, mesmo com o Bigode fazendo alguns moverem um pouco as barracas a fim de não matar as plantinhas que insistiam em invadir as clareiras.
O dia prometia ser leve e foi assim mesmo. Montadas as barracas, dormimos um pouco, pois a maioria não tinha conseguido dormir na viagem. Dividi a barraca com o Mário, da Asas no Pé. Barraca esta que logo se tornou o maior pardieiro da vizinhança com a nossa incrível capacidade de bagunça. Encontrar as coisas tornou-se próximo ao impossível, mas tudo bem, já que o negócio era subir montanha e não ficar dormindo... Desculpa esfarrapada, mas servia para o momento.
À tarde, fomos passear por uma série de cachoeiras e quedas d’água que o Rio Taquaral fazia. Lá passamos a tarde, sem pressa, só admirando a paisagem que era bem pitoresca, com o canyon do rio bem fundo, e seus paredões cheios de vegetação a completar o quadro.
Todo mundo estava tão cansado, mas tão cansado, que por volta das nove da noite mais de metade já tinha dormido. Se preparando para o primeiro dia pesado, que seria o domingo.
Domingo, dia 10
Acordamos por volta das sete e já fomos nos preparando para o prato do dia: o monte Olimpo, o mais alto do maciço, com 1539 metros. Antes, um parabéns prá você todo especial para a Monserrat e o Toca, que faziam seus cumpleaños ali. Como presente, uma árdua subida até o cume...
Tomamos um café rápido, vestimos a mochila e toca para o cume. Por volta de nove horas partimos e às dez já estávamos no início da Trilha Branca, que leva ao tal monte.
O grupo foi dividido em três, para que fosse mais fácil a locomoção. No meu ficaram eu, Monserrat, Jackson, Lazão e Val, Toca e Mário. A subida começou e continuou íngreme. O calor é forte e a umidade no ar não permite a transpiração, fazendo o suor grudar no corpo. Em pouco tempo estávamos em sopa e morrendo de sede.
O terreno é íngreme e com vegetação em todo lugar. Normalmente, a subida é feita utilizando as pedras e raízes das árvores, que literalmente crescem à altura do seu nariz. Somando isto com o limbo e o barro, faz da trilha um desafio desgastante.
Quando conseguimos mais altura, entramos na vegetação de altitude, onde os trechos de pedra nua eram realizados por degraus de metal fincados na pedra. Às vezes, uma corrente aparecia para oferecer apoio... Mas em todo o caminho, a verticalização do percurso era evidente, fazendo os mais suscetíveis ao medo de altura ficarem preocupados!
Junto com a gente, uma cadelinha preta, a quem demos o nome de Molly, subia com desenvoltura os lugares mais difíceis. Só desistiu quando chegou nos lances de escada, que se mostraram demais, mesmo para aquela cachorra montesa.
Extenuados e famintos, chegamos ao pico por volta de uma e meia da tarde. Com isto, já dava quatro horas e meia de trilha... Alguns montanhistas estavam lá a apreciar a paisagem. Fizemos o mesmo e tiramos algumas fotos. Do cume, vê-se o mar e por sorte o tempo estava limpo. A baía de Paranaguá estendia-se lá embaixo, lá longe.
Duas da tarde, era hora de voltar. E foi uma longa volta. Na subida, a coxa era mais exigida. Na descida, era a vez dos joelhos. Horas e horas descendo, todos cansados, sujos e loucos por um banho, chegamos ao acampamento quase nove da noite. Não tinha água direito para tomar banho e já era noite. Fomos jantar por volta das dez e corremos para a cama.
O clima entre o pessoal já era de velhos conhecidos. Nada como uma indiarada para quebrar o gelo...
Segunda, dia 11
Acordei torto de tanta dor nas pernas. As bichinhas estavam muito cansadas e nem um pouco dispostas a fazer outra puxada hoje, mas fui logo chamando à ordem.
Do pessoal, apenas onze quiseram fazer a trilha vermelha. Do resto, a maioria pegou o trem e desceu até Morretes. Outro grupo foi até o Rochedinho, na trilha azul, bem mais fácil do que o que nos esperava.
Na direção do parque, onde se combinam aonde vai cada um, nos disseram que a trilha vermelha completa estava fechada, e teríamos que ir somente até a Ponta do Tigre e voltar. Quem quisesse escalar o Abrolhos também poderia.
A trilha começou e com ela a subida. E subida. E subida. A Flávia e a Renata pensaram em desistir, mas foram convencidas por nós a continuar. Todo mundo muito cansado, porque a trilha era muito difícil e somada ao cansaço do dia anterior, judiava de cada um.
Não há momento de sossego, sempre se sobe. Às vezes por raízes, às vezes por pedras, às vezes por barro e ainda passagens com correntes sobre pedras limbentas e lances de escada sobre pedras em precipícios. Bem punk...
Passamos pela divisão de trilha entre o Abrolhos e a Ponta do Tigre (juro que nenhum dos nomes faz sentido para mim...) e a água já estava no fim. Restava pegar de uns filetes que desciam pela pedra, colocar hidrosteril e esperar um pouquinho para matar a sede. O cansaço estava pegando todo mundo e ainda restava uma hora para chegar ao cume.
Depois de mais lances de escadas e corrente, chegamos ao cume. Eu queria parar por ali mesmo... A visão é melhor que a do Olimpo. Da Ponta do Tigre (1400m), vê-se o Abrolhos duzentos metros abaixo. O sol prá variar judiava e a gente não ficou muito tempo lá em cima. Só o suficiente para tirar toneladas de fotos... O Carlão quase que se pendurava no abismo, só prá ficar num ângulo melhor para tirar a foto!
Início da descida e percebi que o problema ia realmente começar agora. A perna estava muito cansada, a água tinha acabado e era descida que não acabava mais. Cheguei ao cúmulo de sentar e simplesmente jogar a perna prá baixo, ao descer de um degrau de raiz. Eu sabia o que fazer com as pernas, mas elas não sabiam o que fazer com minhas ordens... A Flávia estava num estado parecido, o Carlão estava com o tênis estourado e desistimos de subir o Abrolhos. Somente o Jackson, o Edu Caetano e o Alan subiram.
Chegamos ao acampamento e fomos à cachoeira. Não havia ânimo nem de tirar os sapatos... Um banho mal tomado, uma espera prá chuvinha rápida passar e volta para o acampamento, escutar a história dos que não foram para cima.
O pessoal do rochedinho tudo bem, mas o pessoal de Morretes armou um barraco num restaurante lá, porque foram mal atendidos. Vieram falando horrores, querendo denunciar, etc e tal. Acho que devem ser todas personas non grata na cidadezinha... Se abusar tem até fotos por lá. Hehe...
Eu queria cama. E eu queria chegar até à cama, o que foi difícil, devido ao estado dos gambitos...
Terça, dia 12
Seis da manhã (muito antes disto, reclama Monserrat), ainda escuro e o Edu Caetano vem chamando todo mundo que quisesse ver o nascer do sol. Meio com sono, meio sem saber onde estávamos, e totalmente doloridos, acordamos e corremos ao acampamento 1. Rapidinho, com lanternas e câmeras, pegamos a trilha azul.
Ao atravessar o rio, o Emerson foi brindado com um banho de rio, ao escorregar numa pedra. A água, naturalmente à temperatura congelante, o fez bufar de susto e deixá-o mais disposto para ver o nascer do sol. E subiu a reclamar da danada da pedra lisa...
Chegamos ao mirante do Rochedinho com o sol prestes a aparecer. Quando apareceu, foi sobre nuvens bem lá embaixo, que cobriam as montanhas baixas, ao nível do mar. Um espetáculo! Ficamos a ver a estação de trem lá embaixo, o trem passando, e o sol tomando conta do lugar. O Jackson ainda fez um chá de maçã com canela que a gente dividiu para esquentar o dia que começava, o nosso último em terras marumbis.
Hora de desmontar acampamento, deixamos as coisas meio no jeito e fomos fazer rappel na Pedra Lascada. A maioria fez, numa descida de quinze, vinte metros, aproximadamente. Um rappel diferente, porque você desce com a ancoragem abaixo da sua linha de cintura e isto dificulta um pouco a saída. Depois, fica mais tranquilo e a gente é brindado com um negativo no final. Alguns se dependuravam de ponta-cabeça, demonstrando suas habilidades verticais, mas tudo na brincadeira. Afinal de contas, estávamos em compasso de despedida...
Acampamento desmontado, almoçamos o resto de comida que sobrou, e levamos as mochilas para um guarda volume na entrada do parque. Agora, só restava esperar o trem. Um pessoal ainda arriscou uns banhos de cachoeira, mas a maioria ficou, com binóculos, a ver alguns escaladores enfrentarem as paredes do monte Abrolhos. Sem binóculos, pareciam pontinhos que se moviam bem devagar. Com o auxilio destes, via-se o rumo que cada um estava tomando. Definitivamente, isto não e prá mim... Pé no chão, ou no máximo na água...
Quase cinco da tarde chegou o trem e duas horas depois, aguentando o barulhão do trem (ficamos num vagão perto da locomotiva) e a fumaça que preenchia tudo dentro dos túneis, chegamos a Curitiba. Foi jantar, despedir-se do Du e da Rita e entrar no micro ônibus.
Três da matina e estávamos em Sorô. Alguns, como eu, tinhamos a fábrica apitando às oito. Outros podiam dormir um pouco mais.
No entanto, todos, sem exceção, tinham no corpo cansado a sensação de ter conhecido um lugar fantástico, que cobra seu preço, mas mostra seu valor. Marumbi, pode ir, que vale a pena...














