Machu Picchu 99 - em terras incas

16 a 30 de julho de 1999

Sexta, dia 16

O vôo ia sair às cinco e quinze da tarde, mas às duas e pouquinho eu já estava em Cumbica esperando os demais, que eu nem conhecia. Logo depois, conheci o Marcelo, a Adriana e o Luciano e um pouco depois a Cláudia. Todos prontos para embarcar rumo à terra dos incas.

Na hora do embarque, cadê a passagem do Marcelo? A Luciana tinha esquecido em Campinas e, como não deu tempo, o Marcelo ia embarcar no dia seguinte... Quanto ao resto da trupe, voou neste dia mesmo.

Chegamos em La Paz às nove e meia, hora local, num frio de quatro graus! O Rodrigo nos esperava no aeroporto e demorou para acreditar que o Marcelo não tinha vindo. Rumamos para o Hotel Glória e nos preparamos para o dia seguinte. Minha cabeça ainda não aceitava o falar em espanhol e não em português, mas era questão de tempo...

 

Sábado, dia 17

Acordamos cedinho e fomos tomar o "desayuno", conhecido por nossas paragens como café-da-manhã e deu prá ver o buraco que é a cidade de La Paz! Cerca de seiscentos metros abaixo do altiplano, La Paz é feita de encostas. Suja e com um trânsito caótico, a impressão é de um gigante que não tomou banho e não se importa muito com isto...

Rumamos de micro-ônibus a Tiwanaku, a ruína mais antiga das que visitaríamos. Junto com pessoas de países como Chile, Argentina, Israel, Áustria, Canadá, etc, tivemos como guia uma figura no mínimo folclórica: uma mala chamada Carlos! Ele insistia em falar demais e vagarosamente. Em inglês e espanhol. Destilava seu "conhecimento" sobre tudo e insistia em terminar as explicações de liberar-nos para as fotos.

Para complicar, estava muito frio e ventando! Como saímos com sol, levamos menos agasalhos e o clima castigava! E Carlos se impunha: "First, the explanation. Then you should take same pictures...". Na primeira deixa, escapamos para a liberdade e descobrimos Tiwanaku sozinhos...

Com muitas ruínas abertas e um museu para explicar melhor, Tiwanaku é o melhor exemplo de arquitetura pré-incaica, onde os elementos qeu encontraríamos mais adiante já estavam presentes, como o puma, o condor e a serpente, simbolizando os mundos terreno, celeste e subterrâneo, respectivamente.

No almoço, tomamos contato com a sopa de quinua (uma espécie de cereal), que é até gostosa e voltamos ao hotel. No caminho reparei que os outdoors da cidade são pintados e não colados como aqui. Engraçado...

À noite fomos à Peña Huari. Peña é o nome dado às festas típicas da região, com muita música e danças. Realmente a música era boa, a dança ótima e a comida razoável. O Luciano já foi pedindo a carne de lhama prá ver se era boa mesmo.

No meio da festa, chega o Rodrigo com o Marcelo! Finalmente o filho perdido estava de volta ao grupo... Após muitas risadas, fomos para o hotel para dormir. A altitude parecia não incomodar mais que o frio...

 

Domingo, dia 18

Era dia de viajar bastante. Pegamos um ônibus cedinho, para chegar em Puno, já no Peru. Uma paradinha providencial em Copacabana para almoço, um passeinho de balsa sobre um dos braços do Titicaca e estávamos quase fora da Bolívia.

Na fronteira, a chatice da imigração. Filas para sair da Bolívia, filas para entrar no Peru. Uma senhora, apelidada por nós de Barbie Montanha, pela sua roupa, começa a passar mal sabe-se lá se pela altitude ou por intoxicação e a expressão "tô meio barbeado" deixou de ter relação com a barba para significar enjôo.

Bom... Cinco horas da tarde estávamos em Puno, uma cidade portuária. Já corria o primeiro tempo da final da Copa América, com o Brasil derrotando o Uruguai, num passeio, por três a zero e assistimos no hotel Don Gabriel todo o segundo tempo. Depois, banho e arranjar um lugar para comer.

Puno é muito feia também... Mais fria que La Paz (provavelmente por ser mais úmida), tem uma ruazinhas que dá medo de entrar e alguns restaurantes e pizzarias que dá só um pouco de medo. Encontramos uma pizzaria que parecia aconchegante, esperamos mais de meia hora para vagar uma mesa prá seis e aturamos um garçom que se não estava bêbado, era bobo mesmo... Perdia pedidos, demorava prá trazer as pizzas, avisou quarenta minutos depois de receber o pedido que não havia macarrão, trazia a conta quando pedíamos mais pizza, enfim, o trapalhão padrão. Sorte nossa que a pizza estava boa...

 

Segunda, dia 19

Bem cedo, acordamos e rumamos ao porto, onde pegaríamos um barco para a ilha Amantani. Antes disso, visitamos o SS Yavari, navio inglês que está sendo restaurado para navegar no Titicaca e que foi trazido até lá em lombos de mula. Muito bonito o navio e muito boa a explicação do guia, que acho que chamava-se Carlos. Será um passeio muito bom quando estiver disponível...

Entramos no nosso barco, parecido com uma chalana, com gente do mundo inteiro (prá variar...) e quase uma hora depois aportávamos em uma das ilhas Uros, feitas de totora e que flutuam pelo Titicaca. Apesar de feita para turistas, o pequeno povo que mora naquelas ilhas faz tudo com totora (uma espécie de junco), desde os barcos até o chão onde pisam. Muito legal. Ah! A gorjeta, ou propina, é palavra de ordem. Quer tirar foto no barquinho? Propina! Quer tirar fotos das crianças? Propina!

Voltamos ao barco e rumamos a Amantani. Mais três horas de um vento forte e geladíssimo e chegamos à Ilha. Ao chegar, parecíamos mercadoria, fortemente disputada pelos nativos, para ver quem ficava hospedado com quem. Ficamos na casa de Juán, nosso guia.

O prato padrão era arroz, papas (batatas), cebola e tomate. Acompanhado de chá de coca ou munha. Antecedido de sopa de quinua... Servia também para o desayuno ou qualquer outra refeição que viesse. Era realmente um padrão de qualidade....

À tardezinha, andamos até o topo da ilha, ao templo de Pachatata (ou Pachapata, whatever...) e curtimos um belíssimo pôr do sol sobre as montanhas do Titicaca. Realmente bonito. Ainda deu tempo de ver um casamento aymara, com todo mundo bêbado de tanto tomar pisco. Aliás, aymara é a lingua mãe naquelas redondezas...

Uma peña mais à noite, muito sono e caminha, que o dia seguinte já batia na porta...

 

Terça, dia 20

Tomamos o desayuno padrão (vide dia 19) e pegamos o barco rumo a Taquile, uma ilha próxima. Mais ou menos próxima... Uma hora depois estávamos lá.

Um subida chata e chegamos ao centro que é a própria vila. Um poste indicava direção e distância a várias cidades do mundo e nativos teciam à soleira de suas portas, naquela pracinha bucólica. Turistas esmeravam-se em fotos e resolvemos subir até umas ruínas acima, num trajeto meio cansativo, prá variar. Aliás, tudo era fisicamente cansativo, e a altitude dava mostras que estava sempre por ali, a apanhar os incautos.

Uma espanhola (da qual não me lembro o nome) já passara mal e o cansaço estampava-se em vários turistas. Por sorte ou preparo, não sei ao certo, nosso grupo estava indo bem, obrigado. Veríamos até quando...

Para constar da história, Taquile é uma ilha extremamente voltada ao turismo, onde as tradições são aparentemente mantidas: os gorrinhos masculinos têm cores que indicam se o taquilês é solteiro, casado e se possui algum poder político. O mesmo ocorre com a cor das saias das taquilesas. De acordo com Juán, é só os turistas irem embora que eles voltam a tecer em seus teares mecânizados, escondidos dentro de suas casas. Coisas do turismo...

A volta a Puno foi de três horas sob um sol inclemente, que trincava os lábios e tostava a pele.

Fizemos amizade com um casal de franceses, Jean Paul e Lorraine (?), que à noite foi com a gente para uma pizzaria e demos boas risadas juntos. Tentávamos convencê-los a fazer a trilha inca junto conosco, mas não conseguimos. O casal ia a Machu Picchu por outras trilhas...

 

Quarta, dia 21

Era o dia do trem. Cerca de onze horas até Cusco... Tudo bem que era a classe Inca, a melhor do trem, mas eram ONZE HORAS! Vamos nós, seguindo no trem amarelo e vermelho...

Começamos a avistar os nevados, de uma majestosidade ímpar e para passar o tempo, jogava-se batalha naval, curtia-se a paisagem, exibia-se mágicas, contava-se piadas e inventava-se histórias. Tudo numa calma que aparentemente só era quebrada pelas bruscas paradas do trem no meio do nada e às vezes por um bando de militares que corriam aos vagões mais baratos, sem a gente saber por quê.

Descobrimos depois. Havia muito contrabando nesta viagem, e as cholas (as mestiças com as roupas típicas) desciam com contrabando e corriam para lugar nenhum, fugindo do policiais. Na última parada, houve momentos de pânico, de acordo com o relato de alguns ingleses, onde as cholas quebravam os vidros, ameaçavam por fogo nos guardas e usavam os turistas como uma espécie de escudo diplomático. Do nosso vagão, não tínhamos a mínima idéia deste fuzuê todo...

Chegamos em Cusco já à noite, e hospedamo-nos no El Dorado Inn, um hotel exótico, beirando o brega, mas muito bonito. Tinha até carpete no banheiro! Saímos um pouco à noite, mas não deu prá ver muita coisa. Fica pro dia seguinte...

 

Quinta, dia 22

A nossa primeira manhã livre e fomos conhecer Cusco. A cidade é belíssima, mesclando construções incas com espanholas. Cusco foi a capital do império inca e local de construção de muitas igrejas, mosteiros e conventos. O choque de culturas é impressionante e dá um ar diferente à cidade de trezentos mil habitantes cravada a 3600 m., nos Andes.

Turistas de muitas nações convergem ali. Cambia-se dólar nas esquinas, buzina-se o tempo todo. Por todos os lugares, há alguém vendendo bugigangas ou postais ou pacotes de turismo, ou tirando fotos... E a gente no meio disso tudo, achando um barato...

Depois do almoço, saímos para um city tour e visita a algumas ruínas. Começamos pela Catedral, cheia de ouro e prata. Construída sobre antigos palácios incas, tem sua base de pedras finamente polidas, coisa que espanhóis não teriam os mínimos meios de conseguir.

O sítio de Qorikancha, onde os sacerdotes-astrônomos incas dedicavam-se ao estudo do céu e do tempo, indicava o quanto de história permeia tantas pedras e monumentos.

Visitamos Saccsayhuaman, a cabeça do puma que é Cusco. Imponentes construções de pedra sobre pedra, precisamente conectadas sem que houvesse qualquer tipo de liga entre elas. Algumas pedras, com centenas de toneladas e tentávamos visualizar a imensidade de gente necessária para erigir tais monumentos.

Fomos depois ver o sapo de Q'enqo, os silos de Pukapukara, as fontes de Tambomachay, a igreja da Companhia de Jesus, tudo regado a histórias arqueológicas nem sempre fáceis de engolir de Fernando, nuestro guia. Este Fernando tinha até escrito um livro, sobre a simbologia do Vale Sagrado do Rio Urubamba, que para ele (e todos os nativos) era Rio Vilcanota.

À noite fomos num restaurante (mais para boteco) cusquenho e comi demais da conta! Saía comida pelo ladrão e resolvi dormir logo para não complicar mais as coisas.

 

Sexta, dia 23

Acordei meio indisposto, mas com fome. Mandei ver no desayuno e qual não foi minha surpresa que... bem... eu ia pagar caro por isso....

Visitamos o Parque Arqueológico de Pisac, distante cerca de uma hora de Cusco. Cheio de ruínas impressionantes e ainda regadas pelas explicações de Fernando, subíamos e descíamos pirambeiras durante duas, três horas. Meu estômago já estava embrulhado, cada vez mais pronto para uma "Barbie"...

Ao chegar no local de almoço, num hotel-meio-fazenda em Urubamba, fiz minha já agendada visitinha ao doutor Walter Cardoso, conhecido como WC entre os íntimos, onde expus literalmente meus problemas e saí da consulta com a consciência mais leve. Em resumo: dei uma barbie providencial.

O almoço estava bom e o grupo que tocava nem tanto. Tocavam até Raul Seixas com sotaque andino, o que não deixava de ser engraçado... Comi pouco porque gato escaldado, bem, vocês sabem...

À tarde visitamos o pueblo inca de Ollantaytambo, onde imensas construções de pedras nas montanhas imitam lhamas e com uma certa dose de boa vontade vê-se um homem entalhado na rocha em tamanho gigante.

Ainda de acordo com Fernando, é possível que ali esteja uma gigantesca pirâmide, com quase quarenta metros de altura e uma base de quase duzentos. Parece que as escavações estão para começar, mas não sei precisar quando. Muitos problemas burocráticos, disse ele...

Na volta ainda visitamos o Cristo Blanco e pudemos tirar fotos "quase aéreas" de Cusco.

Nosso grupo já era só de brasileiros e fizemos uma reunião à noite para tratar da trilha inca, que começaria no dia seguinte. Por conta desta reunião, não deu prá ir num festival de coros que ocorria naquela noite. Tudo bem ...

Preparamos as mochilas, que o dia seguinte ia ser brabo...

 

Sábado, dia 24

Cedinho. Todos preparados. Ia começar a famosa trilha inca.

Juntamos num ônibus com os mineiros da Companhia do Trekking e com os paulistas da Pisa Trekking e andamos muito tempo de ônibus até o início da trilha, em algum ponto próximo de Chillca.

A trilha começa numa ponte sobre o rio Urubamba (Vilcanota) e segue por entre as montanhas. Um trajeto meio light prá quem esperava mais e já paramos para almoçar. Após o almoço, ao passarmos pelas ruínas de Llactapata, começou a chover. Nem tão forte, nem tão fraca, serviu apenas para tirarmos o cheiro de naftalina dos nosso anoraques e esfriar um pouco mais o tempo.

Acompanhávamos o rio Cusichaca... Tardezinha e já estávamos em Wayllabamba, com nossas barracas já montadas pelos porteadores, os carregadores que no Himalaia atendem por sherpas e que carregam muito peso em suas costas, em troca de poucos dólares.

Durante o jantar, a lua saiu, o céu abriu e uma ou duas estrelas cadentes riscavam o céu, alertando aos caminhantes escolher bem o pedido que fizessem. Dormimos bem, apesar do chão irregular.

 

Domingo, dia 25

O dia mais pesado da trilha começava. Havia um desnível de 1200 metros, desde Wayllabamba até Warmiwañuska, o primeiro passo. A subida é inclemente, o ar falta, as pernas doem, o coração bate a quinhentos por horas e o arrependimento é de não ter usado o desejo da estrela cadente da noite anterior com uma garrafa de oxigênio ou carrinho de teleférico.

Subimos até o passo em duas etapas, intercaladas por um almoço, num lugar extremamente gelado chamado Lluluchapampa. Alimentados, enfrentaríamos o resto do caminho até o passo de Warmiwañusca, que tem em seu significado algo a ver com mulheres mortas. Perfeita referência...

Ao chegar no passo, dá pra se sentir muito feliz por ter conseguido ultrapassar o primeiro desafio, mas só aí percebe-se que falta a descida, onde a batata da perna frita de tão exigida. É uma escadaria sem fim, mas prá baixo...

Após uma paradinhas providenciais em nascentes para reabastecer os cantis e escutar a quena (uma flauta sem bocal) do Jim, nosso guia, e chegávamos a Pacaymayo, nosso segundo acampamento.

Cantorias desafinadas à noite, acampamento sempre lotado e cama, quer dizer, saco de dormir...

 

Segunda, dia 26

O café da manhã (ops! desayuno...) teve até iogurte! Muito chique para o terceiro dia nos Andes. O mestre-cuca estava feliz e veio dizendo que preparou melhor que de costume o caf... desayuno. Talvez fosse porque era o último dia nosso com o resto do grupo. Prefiro pensar assim.

Pela manhã, encaramos o segundo passo, até Runcuracay. Subida muito cansativa mas não tanto quanto a do primeiro passo. Parada para histórias sobre as ruínas e lá estávamos nós no segundo passo, a quatro mil metros de altitude.

Hora de tomar a foto do grupo inteiro. Todo mundo em cima de uma pedra e click! Como o lugar era realmente muito bonito, gastamos muitas fotos por ali. Havia alguns lagos e nevados ao fundo. Espetacular!

Toca a descer de novo, passando por Sayacmarca, ruínas de uma estação de repouso inca dotada de um mirante onde se via o vale sagrado por muitos quilômetros. Aqui e ali alguns banhos e alguns sobrados. Legal mesmo!....

Na hora do almoço, paramos em Chaquicocha para almoçar, sob um sol que machucava. Achamos que separaríamos aqui do resto do grupo, mas isto foi só foi ocorrer em Phuyupatamarca. Tempo ainda para uma caminhada leve até lá, com direito a uma mini-trilha original, que levava a ruínas ainda não limpas, lembrando o estado que Machu Picchu foi encontrada.

Não sei o estalo que me deu, mas me sentia muito bem na trilha, não sentindo nem um pouquinho mais a altitude. De ânimo redobrado, rumei até Phuyupatamarca a passos largos.

Chegamos em Phuyupatamarca, local de acampamento do resto do grupo e após algumas fotos, despedimos de quem já tinha chegado. Pena que não veríamos mais ninguém por problemas de horário. Só por email...

Toca para o nosso lugar de acampamento, em Wiñaywayna. Antes, uma bênção do guia-shaman Adrian, um cara meio maluco. E descida prá que te quero... Chegamos lá à noite e a duras custas encontramos nossa barraca.

Wiñaywayna é o que podemos chamar de Babel. Falta só a torre. Encravada numa pirambeira de meter medo, aglomera gente do mundo inteiro, falando alto e cheirando mal. A meia luz que impera colabora para o clima cosmopolita-underground. Gente da trilha de quatro dias e também de uma trilha, se podemos chamar assim, de dois dias entopem o ambiente. É quase impossível encontrar alguém por alí. É bem possível ter coisas furtadas, portanto, olhos abertos e tudo dentro da barraca!

Jantamos na barraca e dormimos cedo, porque acordaríamos de madrugada...

 

Terça, dia 27

Quatro e pouquinho da manhã, depois de uma noite pessimamente dormida, acordamos para a última esticada, até a Intipunku, a Porta do Sol. Apesar de acordar cedo, o café demorou e saímos já era dia claro, às seis e pouco.

Tomei a frente para ver o sol nascer e fiz em quarenta minutos o percurso, cansando prá caramba, mas... era o último dia mesmo, pôxa....

Cheguei em Intipunku um pouquinho antes das sete e o sol ainda não tocara Wayña Picchu. Vinte minutos depois chega o resto da comitiva para juntar-se às inúmeras pessoas empoleiradas para ver o sol tocar a cidade. Revemos os franceses e tiramos muitas fotos!

É realmente grande a satisfação de ver Machu Picchu, ainda pequenina, lá abaixo no vale. Significa o fim de quatro dias de trilha e em mais um carimbo no passaporte de lugares especiais a se visitar. Restava pouca trilha até lá, mas estávamos no visual e isto que importava!

Em Machu Picchu, tivemos como guia o Ruiz, que preferia ser chamado de Inti. Esta história veio depois de "revelarmos" nossos nomes incas, que puséramos alguns dias atrás. Como tais nomes eram de mais fácil recordação para os guias, ficamos conhecidos por eles assim: Eu, Qorikancha. Rodrigo, Urubamba (Vilcanota para os íntimos...). Cláudia, La Mercedes e depois Chaska. Marcelo, Wayllabamba. Luciano e Adriana, Pachatata e Pachamama, respectivamente. Era divertido ser chamado assim e os guias adoravam!

Visitamos todas Machu Picchu, só não conseguindo subir o Wayña Picchu por precisar descer para Águas Calientes para pegar o vôo das três. Descemos de ônibus, com um menino a gritar pela descida inteira "Goodbye". Cobrou propina pelo feito no final da descida. Obviamente...

Almoçamos num dos restaurantes ao lado da linha de trem, vimos o empurra-empurra para pegar o dito-cujo, que ia entupido de gente e andamos até o heliporto, para darmos uma de gente chique e voltar a Cusco de helicóptero.

Num vôo de vinte e cinco minutos, comparado à viagem de mais de três horas de trem, vimos os Andes lá de cima, incluindo as ruínas e a cidade. Muito legal mesmo! Não víamos a hora de chegar no hotel e tomarmos o banho tão esperado...

Como o hotel El Dorado estava lotado, fomos ao Holliday Inn, ou Don Carlos. Um banho de mais de meia hora tirou o "cascão", repôs as energias e o corpo, já percebido que a brincadeira terminara, começava a doer.

Jantamos nem lembro aonde e voltamos para dormir. Dia longo este!

 

Quarta, dia 28

Último dia em Cusco. Manhã livre para fazer compras, tarde livre para visitar o resto dos museus e igrejas. Só não contávamos com o feriado! Acho que era dia da independência e muitos museus estavam fechados. Restou-nos visitar igrejas e outros monumentos...

Tem uma pedra numa parede muito famosa, chamada de Pedra dos Doze Ângulos. Passamos por ela e realmente ela tem doze ângulos.... E só. Um dia vou descobrir o que faz dela algo tão fotografado...

San Blas, Santa Catalina, Palácio Municipal, Museu de Arte Religioso, Museu Inca... Um monte de lugar visto mais ou menos a jato, só prá constar...

A noite, já meio de bode, tentei assistir o jogo da seleção, mas mais dormi que outra coisa...

 

Quinta, dia 29

Cedinho fomos ao aeroporto pegar o avião para La Paz. Uma hora depois, já estávamos em território boliviano.

Rumamos então ao Chacaltaya, um monte de 5400 metros que pretendíamos chegar ao cume. O dia bem claro anunciava que não teríamos temperaturas tão baixas e lá fomos nós.

A van penava para subir a montanha e nos deixou a 5200 m. A estação de esqui de lá ficava a 5300 m. e subimos, super-agasalhados até o cume. Gente! Cansa prá caramba! Pouco ar e muito frio. A orelha doía, assim como o pulmão. Os passos são curtinhos, curtinhos, mas enfim conseguimos chegar ao cume e tirar "milhares" de fotos com neve, sem neve, com pedra, sem pedra, etc. Voltamos rápido para não ficarmos apunados, ou sorochados ou o nome que queiram dar para o mal de altitude...

Comecinho de noite e estávamos em La Paz, no mesmo hotel Glória dos primeiros dias. Rapidinho fomos comer na Peña Huari, só que sem peña. Bife de lhama prá todo mundo!

 

Sexta, dia 30

Às sete da manhã, horário local, pegamos o vôo para São Paulo, com escala em Santa Cruz de La Sierra. Chegamos aproximadamente às treze horas e após uma breve passagem no Free Shop, tiramos a foto final, indicando o final da viagem.

Ficam bons amigos que prometem se encontrar em breve para um "te" com fotos e a sensação de conforto que a casa da gente traz....

Prá quem quer ir, vou adiantando que uma viagem a Machu Picchu é muito mais que uma ruína sagrada encravada nas montanhas andinas. É um povo diferente, são babéis em cada ponto, são paisagens indescritíveis, são pessoas que ficarão na lembrança, são memórias de um imenso império já passado. Conselho: vai, que não irá se arrepender!