- Aventura
- Diário de Bordo
- Itararé/SP - orgulho de ser caipira
30 de dezembro de 2003 a 04 de janeiro de 2004

Terça, dia 30
Saímos de Sorocaba por volta das nove da manhã. Nosso destino era a cidade de Itararé, na fronteira de São Paulo com Paraná, a 250 km de Sorocaba. Este era o caminho que os tropeiros faziam e a gente estava fazendo ao contrário. Assim, passamos por Itapetininga, Capão Bonito, Itapeva e enfim, Itararé, todas com a distância de 60 km umas das outras, distância de um dia de jornada das tropas de muares.
Chegamos por volta do meio dia no Itararé Hotel, onde deixamos as coisas no quarto e procuramos algum lugar para comer. Encontramos a Churrascaria do Zé e traçamos um self-service básico, prá acalmar as lombrigas...
Depois era hora de dar uma conhecidinha na cidade... Pequena (50 mil habitantes) e tranquila, Itararé tem alguns lugares bem legais, que não são divulgados como deveriam. Quer exemplo? A Grenah - Café com Arte, que serve um cafézinho com crepe e vende artesanato da região, tudo no mesmo lugar.
Passeando pela rua, um lugar nos chamou a atenção: era uma loja de fotografia, onde estavam expostas fotos antigas, em preto e branco, das revoluções que surgiram na década de 1930 em São Paulo... Ficamos sabendo que Itararé é conhecida como a cidade onde quase ocorreu guerra, ficando as tropas de um lado e de outro, sem se enfrentar de fato... As fotos mostravam soldados ao lado de Getúlio Vargas e várias do front da "quase guerra", todas tiradas por um tal de Claro Jansson, um sueco, figura ilustríssima da cidade, já falecido, que teve inclusive um livro muito bonito sobre suas fotografias, lançado recentemente.
Passeando, passeando e a tarde foi embora. Voltamos para o hotel e conhecemos o Renato, que seria nosso guia por todos estes dias. Ele falou um pouquinho (o que é difícil, porque o bicho deve ter três cotovelos, pelo tanto que fala...) sobre os lugares que a gente ia conhecer, falou sobre o fotógrafo sueco e indicou prá gente jantar na Cantina do Tio, um dos lugares gostosos de comer aqui em Itararé.
Demos uma boa cochilada no resto da tarde e à noite fomos na tal cantina... É quase um boteco, mas cheio de atitude! O tio, um senhor já de idade que adora conversar, serve comida caseira muuuito gostosa e prá completar estava lá um tal de Edgar Moreno, um gaúcho metido a seresteiro que não queria saber de outra coisa a não ser tocar as serestas antigas e tomar a cervejinha. O Tio dava a deixa e ele já emendava uma música, cantando tão alto que dava prá escutar três esquinas prá cima...
Conversamos com um casal, o Gledson e a Ana, que todo ano viajavam pelo Brasil, procurando cidadezinhas que de tão pequenas, tinham um charme que só cidades nanicas têm. Na volta, sempre passavam em Itararé (que não é tão pequena assim, diga-se de passagem...) e iam na Cantina do Tio matar as saudades. Boa conversa e o sono já estava ali a exigir da gente retorno imediato.
Dormimos cedo, porque no dia seguinte começariam nossas artes por estas terras caipiras...
Quarta, dia 31
Acordamos mais ou menos cedo e fomos logo tomar o café, porque o Renato tinha avisado que a gente sairia às oito e meia da matina. Café da manhã no hotel é uma coisa boa... A gente come tanto que fica até com medo de passar mal na trilha!
Oito e meia, nós ali, o Renato ali e os outros quatro que iam junto com a gente nem aí! O Renato sugeriu que eles fossem com o irmão dele, o que a gente topou na hora e lá fomos nós em direção a Sengés, já no Paraná. Era lá que iríamos fazer a trilha das cachoeiras, um percurso de cerca de 14 quilômetros repleto de quedas d'água grandes e maiores ainda, e otras cositas más... No caminho até lá, porteiras, porteiras e mais porteiras...
O problema era que a chuva resolveu passear junto e logo no início da trilha, já estávamos convivendo com aquela garoa fininha que tanto desanima a gente... Mas, seguindo a dica do Renato e traçando todas as gabirobas do caminho, fomos em frente à primeira cachoeira, a da Cabeceira do Lageado Grande. Vimos de cima, depois descemos e vimos de baixo. Subimos outra trilha para, de um mirante, tirar fotos da mesma cachoeira onde a gente via outras pessoas minúsculas, dado o tamanho da bicha.
Caminhando e comendo gabirobas, chegamos à Cachoeira dos Veadinhos, e junto com a gente a chuva chegou de vez. A cachoeira é muito bonita, com poços para nadar, mas a chuva nos obrigou a rever nossas intenções. Para almoçar ( ou lanchar...), nos escondemos embaixo de uma mini gruta, feita de raízes das arvores, lugar este que a gente não ia entrar nem a pau em outras circunstâncias... Mas, sabe como é.... Chuva e fome são uma combinação interessante para você descobrir novos lugares...
Desta, e depois da chuva dar uma trégua, fomos parar em uma cachoeira chamada Cachoeira do Lageadão. Chegamos, mas na parte de cima dela... Como tinha que descer, o Renato nos deu a opção entre descer pelo mato ou junto à cachoeira. Escolhemos o caminho mais molhado e mais difícil, no entender do Renato. Mas como “nosso grupo” estava tranqüilo, foi moleza... Lá embaixo, mais fotos da cachoeira e do poção que tinha lá. Diga-se de passagem, ninguém muito animado a entrar em água...
Para voltar, enfrentamos um subidão pelo meio de cipós e muito mato e, lá de cima, um vale muito bonito, com campos floridos e o escambau. Até o céu parecia que tentava ficar azul, mas era só brincadeira de mau gosto.
A trilha então passava dentro de um reflorestamento de pinus, onde é muito engraçado a gente andar, porque tem cerca de meio metro de folhas de pinus por baixo, parecendo um colchão, em que você anda parecendo flutuar. Saindo deste lugar insólito, fomos à Cachoeira dos Bugres, que prá descer tinha que pegar uma trilha bem “ingride”, como dizia o Renato... A gente passa por uma cachoeira que ainda não tem nome (que tal chamar de Ingrid ?) e na queda principal, a dos Bugres, onde um a um (eu por último) foi se animando a entrar embaixo da queda d’água. Tava tão fria, tão fria, que cada gota parecia ser feita de alfinete líquido, pela picada que dava quando batia na pele... Subimos de novo, atravessamos uma plantação de soja, com o Renato dando um pulo por causa de uma cobra verde e chegamos de volta ao ponto de partida.
Terminamos a trilha das cachoeiras e estávamos tortos de fome. Aí o Renato fez o primeiro ato digno de um guia notável: levou a gente prá um ranchinho caipira, onde estava à nossa espera um queijinho fresco, um pão caseiro fumegando de quente, um doce de leite também caseiro, manteiga gostosa e um cafézinho passado na hora. Estava feita a festa! Comemos bem e ainda levamos quatro peças de queijo prá comer em Sorocaba...
Passando na volta por Sengés, paramos em uma igrejinha bem diferente, com visual moderno prá lá da conta, cheia de vitrais, cada um fornecido por uma família da cidade, e com o nome da família embaixo do vitral. Bem legal! Sengés poderia ser melhor aproveitada, mas tem uma fábrica de celulose ali que despeja fumaça na cidade e o lugar acaba ficando feio... Uma pena.
Como era último dia do ano, não tinha jantar, tinha ceia de ano novo. O problema era aguentar até às dez da noite... Comemos alguma coisinha antes e dez da noite fomos ao Bom Apetite. Só a gente de turista, que o pessoal cumprimentava e só... Não era para menos, né?
Dez, dez e meia, onze e nada de comida. Às onze, estouraram alguns fogos por perto e começaram a servir a ceia, que a gente comeu rápido prá ver a virada de ano da praça central, onde, dizia a lenda, ia ter queima de fogos...
Meia noite, tchau 2003, como vai 2004?, feliz ano novo e nada de fogos. A praça estava lotada de gente (provavelmente toda Itararé...), alguns com a garrafa de champanhe vazia por não agüentarem esperar até à meia noite, outros espoucando as garrafas meia noite em ponto... Feliz Ano Novo Monserrat! Feliz Ano Novo Eduardo! E de repente começam a voar garrafas!
Primeiro: a queima de fogos foi às onze... Não me perguntem por quê... Acho que pensaram que Jesus voltaria às onze e quinze e, prá não perder o foguetório... Enfim, meia noite e os capiaus do lugar, sem ter coisa melhor prá fazer, começaram a jogar as garrafas de champanhe vazias na multidão! As garrafas quebravam e os policiais corriam atrás dos bobos, e a gente correu prá segurança do hotel, de onde deu prá ver da janela a queima de fogos de Sengés e a da televisão.
A gente ria pelo ridículo da situação e foi logo dormir, porque dia seguinte tinha mais passeio...
Quinta, dia 01
Café colonial de manhã, acompanhado de chuva e frio. A programação era conhecer um canyon e umas cachoeiras, mas a gente convenceu o Renato a nos levar prá Caverna do Pinhalzinho, já que dentro de caverna não chove... vocês não têm noção da facilidade com que ele se convenceu...
Saímos às 08:30 para Bom Sucesso do Itararé-SP, sem ter a mínima noção do que o primeiro dia de 2004 nos reservava... A idéia era ir direto para a Caverna do Pinhalzinho, mas no meio do caminho, nosso “diga-se de passagem, excelente guia, optou por pegar um atalho para podermos conhecer outros lugares bonitos, onde poderíamos avistar varias formações rochosas, descemos em direção a Serra da Lumbert, uma antiga estrada que quase ninguém mais passa, a não ser cavalos, tratores, etc., dá para ter uma noção como é aquele local.”. Bom, para que não reste dúvida, estamos falando do Renato mesmo!
O problema é que a estradinha, que começa muito bonita mesmo, depois de passar por uma fazenda, começa a ficar demasiadamente enlameada! A preocupação começou a aumentar e o Renato dizendo que por enquanto estava tranquilo, que o único problema seria passar por uma tal de “valeta”...
Bom, a Matilda (nossa orgulhosa Strada Adventure) até que agüenta mais tranco que um carro comum, mas definitivamente não é um jipe. Mais definitivamente, não tem tração 4x4 e definitivamente não é alta como um jipe. Para esgotar meus “definitivamentes”, definitivamente eu achava que a Matilda ia mesmo era pro brejo...
O Renato descia a cada duzentos metros para tirar uma galhada que tivesse impedindo o caminho e algumas vezes, desci junto. A adrenalina e o stress começavam a aumentar e a estradinha cada vez pior. Na tal valeta, o Renato me instruiu que tinha que “ir para a direita, depois daquele ponto, vira prá esquerda, depois apruma e depois acelera.”. Pois bem, a valeta virou história, assim como uma peça da Matilda que não sei para o que serve, mas se soltou em parte e a gente tirou de vez. é uma borracha tipo limpa-trilho...
Passando a valeta, achamos que o pior tinha passado mas, meu Bom Jesus Cristo, como estávamos enganados!!!
O que tínhamos pela frente era algo do tipo “estrada-lamacenta-com-grandes-sulcos-de-jipe-e-um-rio-no-meio-e-ainda-por-cima-imgrime”... Falei que a gente não passava, mas o Renato disse que passava sim. Falei que o carro era baixo para aquilo e ele me disse que eu estava enganado. Fomos em frente e eu não estava engando... Matilda estava atolada. Não era bem atolada, mas a altura dela a deixava semi-suspensa, apoiada pelo protetor de carter e com uma das rodas no ar.
Momento de pânico, lembrando que o trator mais próximo estava a pelo menos três quilômetros de distância e imaginando que bela maneira de começar um ano. O Renato desceu e tentou empurrar o carro, mas nada de se mexer...
Para completar, tão logo a gente conseguisse sair do encalhe, o rio Itararé nos esperava a menos de dois metros. Assim, o plano era: desencalhar, pegar velocidade, passar pelo rio ( meio metro de profundidade ) rápido, sair por uma estradinha muito da "ingrid" besuntada de lama e subir até um local onde fosse possível parar o carro sem atolar. Coisa de maluco, programa de índio...
A Mon nem quis tirar foto do carro, ó de olhar prá minha cara de preocupado. Desci. A Mon, como era mais leve, ficou no volante (primeira vez e acho que última, que ela dirige a Matilda) e eu e o Renato fomos para trás empurrar. Com muito custo, fizemos o carro deslizar meio metro, o suficiente para conseguir tração novamente. Que conste nos autos: foi a Mon que, na direção, desencalhou o carro!
Voltei para a direção, o Renato completamente sujo de barro deu uma empurrada atrás. Com a janela direita da Matilda aberta, o carro começou a descer para o rio. O coração já não batia, galopava. Um mundo de água se espalhou por todos os lados e, ao chegar na outra margem, só consegui tirar meio carro para fora do rio. A Matilda patinava feito uma louca.
Dei uma refugada e virei a direção para a esquerda. Deu certo! A Matilda conseguiu tração e saiu do rio feito uma cabrita! A estradinha para subir estava com buracos a dar com pau e, dentro do carro, tinha mais lama do que fora, por conta da janela aberta!
Enfim, chegamos no topo, onde dava para parar o carro sem problemas. O Renato veio, feliz e aliviado, olhou o carro e me perguntou se eu não tinha problemas de andar sem a placa da frente. Achei que era brincadeira, mas ele me mostrou e não é que a Matilda perdeu a placa? Voltamos para o rio, olhamos, reviramos, procuramos e nada de placa. Na câmera digital vimos que a última foto com placa tinha sido láááá em cima, mas concluímos que fora no rio mesmo... Provavelmente, tinha peixe rodando com chapa fria...
Daí, trocamos o CD da Enya, que tinha tocado umas “trocentas” vezes, mais meia hora de estradinha, e voltamos à estrada. Tudo OK com o carro, a estrada de terra já parecia asfalto... Chegamos perto da caverna e, ao ver um atoleiro, decidimos ir a pé o resto do caminho. Nosso adventure-card do dia já tinha esgotado seu limite.
Atravessamos a pé, sob uma chuva fininha, o atoleiro e entramos na caverna, em completo silêncio porque o povo miúdo (abelha ou vespa, não sei) tinha feito morada na boca da caverna. A entrada é bem escorregadia e em pouco tempo a escuridão era completa.
Quarenta minutos dentro da caverna e chegamos num ponto onde tinha que se espremer, depois pisar numa plataforminha, pular para outra sobre um abismo e pular de volta. A Mon resolveu que não ia em frente e, como a gente já tinha vivido emoções demais por um dia, concordamos prontamente. Voltamos e no Salão das Pérolas, ficamos mais de meia hora jogando conversa fora, lanternas desligadas, em plena escuridão.
Decidimos voltar e, quase duas horas depois de entrar na caverna, a gente saiu e viu, no atoleiro na estrada na frente da caverna, umas pegadas de um gato beeem grande, que não estavam ali quando entramos. Ou era uma jaguatirica de Itu ou era uma onça mesmo. Tiramos fotos, meio assustados, e voltamos para a segurança da Matilda.
Na volta, para completar o super-mega-passeio, fomos até à casa de um artesão da região, onde se usa uma técnica indígena de fazer potes de cerâmica. O forno é cavado no chão, como um poço. Na parte inferior, acende-se uma fogueira e os vasos ficam na parte superior. O material para confeccionar resume-se a uma peneira de bambu, uns sabugos de milho e um torno improvisado. Mesmo assim, o resultado é muito bonito.
A Monserrat, que de uma olhada rápida viu que o preço dos vasos estava muito bom, ficou de olho bem grande. Com a palavra o Renato: “Uma das moças do grupo, fez uma pequena compra de umas 20 peças, o que o dono da casa vendia no mês, ele vendeu num dia só”. Gastou nisto tudo o valor de uma só peça, se fosse comprada no Morumbi Shopping, e lotamos a caçamba da Matilda com artesanato de cerâmica!
Na volta, com a Matilda desplacada, corremos para a delegacia fazer um B.O., porque senão qualquer polícia ia parar a gente e apreender o carro. A gente moído de cansaço, sujo até o tutano dos ossos, e o escrivão catando milho no computador para registrar a ocorrência... Meia hora depois, estávamos no hotel, tomando um banho merecidíssimo e... quase... prontos prá outra.
Jantamos esta noite na Pallato, uma pizzaria com cara de cidade grande que tem aqui em Itararé. Tão chique que, no veneno do Renato, o pessoal de lá não vai porque tem vergonha da porta que abre automaticamente... Rimos muito na porta lembrando disto e pedimos uma pizza no capricho. comemos muito e corremos prá cama, que o dia tinha sido estressante... Nem dez horas da noite e estavamos nos braços de Morfeu...
Sexta, dia 02
Vacinados contra o Renato, tomamos o super café e saímos desta vez, às nove da matina. E não estávamos sós! Com a gente iam a Marta, a Paula e o Téo, o Paulo e a Sabrina, rumo à cachoeira do Lageado Grande, em Sengés.
Chegando lá, vimos porque esta é uma das maiores atrações da região. Uma cachoeira de cerca de 40 metros de altura, com uma cortina de mais de 30 metros, com um lago e uma prainha. Coisa de cinema! Para completar, é possível passar por trás da cachoeira, andando em uma trilhazinha... É claro que a gente não ia perder esta, mesmo com a água tremendamente fria.
Quando você está atrás, o visual é explêndido, com aquela cortina d'água imensa à sua frente, num barulho muito forte. Na saída você cruza a cortina, tomando uma chuveirada tão forte que faz você ter que cobrir as orelhas. É um trajeto escorregadio, com direito a um batismo que eu não conto prá não estragar a surpresa prá quem for, mas tremendamente belo. Como diriam os anúncios: Não Perca!
Saímos da cachoeira, mesmo porque estava chegando mais e mais gente, e rumamos para a parte de cima da mesmo, para começar uma longa trilha que gastaria o resto do dia. Almoçamos em um ponto acima do rio, cruzamos com água nos tornozelos e começamos a trilha propriamente dita onde o mato judiava um pouco, cortando nossas belas pernas. Em uma das pedras, a gente podia ver umas pinturas nela, que os estudiosos ainda estão analisando para ver se é mesmo pintura rupestre ou não. Seguimos bastante pela margem do rio, com várias quedas d'água por ali e muitos poços para se divertir. O que a gente não estava percebendo é que, apesar de não ter sol, o mormaço começava a fazer suas vítimas. ninguém tinha passado protetor e a pele começava a arder...
Subimos pela trilha até um estrada e de, pela estrada, andamos alguns quilômetros até uma fazenda, onde poderíamos chegar a um canyon. Atravessamos a fazenda, com muito boi olhando com cara de poucos amigos prá gente e, já com sol, chegamos ao Canyon do Jaguaricatu.
As paredes de arenito do canyon têm por volta de oitenta metros e é possível fazer rappel ali. Como não tínhamos equipamento nenhum, nos divertimos vendo a paisagem maravilhosa, tirando muitas fotos e comendo o resto de comida que tínhamos.
Na volta, paramos em uma casinha prá tentar tomar mais um café caipira, mas a dona, que não parecia muito acolhedora, só nos serviu queijo branco e só se deu conta da besteira que tinha feito quando o pessoal quis comprar outros queijos ela. Mas aí já era tarde... Brincamos com um filhote de cachorro e um de gato que lutavam. Todo mundo mexendo nos dois e fazendo pose prá tirar foto, que ficaram bem legais, por sinal.
Voltamos pro hotel, que o dia já tinha ido embora... E tinha sol!!!
Jantamos na Cantina do Tio, desta vez só a gente, e não é que tal do violeiro estava lá de novo? Só que desta vez estava magoado com alguma coisa, que ele insistia que era desilusão com o mundo... Resolveu fazer discurso e a gente querendo comer... O discurso continuava e eu já pensando que ele poderia ir embora... Aí o Tio, percebendo, dispensou o violeiro magoado e ficou conversando com a gente o resto da noite, contando causos da cidade... Tirando o violeiro um tanto chato, foi bem legal a conversa com o Tio e a gente prometeu voltar prá lá numa outra ocasião.
Saímos da cantina com um frio de trincar! Não dava prá saber se estava realmente frio ou se a insolação do dia pegou a gente de jeito... Corremos para o hotel, nos metemos nas cobertas e dormimos profundamente...
Sábado, dia 03
Já começava a rumar para o final nosso passeio por Itararé, mas ainda tinha bastante diversão. Desta vez, na companhia do casal Acácio e Isabel, um casal muito boa gente, sendo ela nascida em Itararé, com destino a Bom Sucesso de Itararé, para conhecer o Canyon do Pirituba.
Abastecemos o carro e, logo na saída de Itararé, os rodoviários nos param prá perguntar da placa que não tinha e lá se vai mostrar o B.O. prá prosseguir viagem... Pelo menos só a chateação, sem "molhar a mão" de guarda nenhum...
Chegamos de carro no tal canyon, que é maior que o do Jaguaricatu, com imensos paredões de arenito, com mais de cem metros de profundidade. Dá prá fazer algumas escalaminhadas pelo local (com guia, pelo amor de Deus!!) e chegar a alguns mirantes belíssimos. Dá prá ficar sentado lá só apreciando a paisagem por horas e horas...
Seguimos para outro mirante, que permitia ver uma grande cachoeira, a da Invernada. Lá embaixo, disse o Renato, tem um belíssimo poço para banhos, mas como nunca é iluminado pelo sol, é gelado que dá dó. Fomos para a parte de cima da cachoeira, seguir o rio e ver as piscinas naturais.
Almoçamos às margens deste rio, que se chama Ribeirão dos Papagaios, e fizemos uma caminhada por dentro do rio, que era bem rasinho. O engraçado é que, apesar de bem raso, o arenito do leito do rio foi escavado de tal maneira que se formaram muitas "panelas", algumas gigantes, com mais de cinco metros de profundidade! Então, a gente andava com muit, mas muito cuidado, prá não tomar um susto e se molhar inteiro. Quando chove muito, disse o Renato, ali não passa nem louco, só suicida.
Ficamos de voltar lá outra ocasião para fazer canyoning, já que o lugar é perfeito! O rio vai escavando a rocha e de cachoeira em cachoeira, você tem diversão por um dia inteiro!
À tarde, fomos de carro para outro tipo de passeio, umas formações rochosas interessantes, chamadas Pedra do Camelo e Pedra da Galinha. No Camelo não dá prá subir, mas na Galinha dá e toca os cinco a subir na penosa. Pelo GPS, estava a 1130 metros de altitude, mas a cerca de oitenta de onde deixamos os carros. Outra subidinha "ingrid", né Renato?
Tiramos muitas fotos, fomos ver outro bicho em pedra, a Tartaruga (precisa de boa vontade prá ver, tá?) e como estava fazendo muito frio, voltamos para os carros. Daí, rumo a Bom Sucesso, prá fazer comprinhas...
A casa do artesão era muito longe e não devia ter mais nada, então fomos para uma loja de artesanato dentro da cidade, onde as coisas custavam o dobro do que o artesão cobrava. Umas comprinhas ali, outras aqui e já começava a ficar preocupante o espaço na Matilda...
Jantamos na Pizzaria Pallato meio com pressa, porque hoje à noite tinha palhaço, sim senhor!! O Circo de Teatro Piska Piska estava em temporada pela cidade e combinamos com a Isabel e o Acácio de assistir o maior espetáculo da terra!
O tal circo de teatro era uma coisa diferente... Era montado debaixo de uma lona de circo, tinha palhaço, mas era uma peça de teatro! Tinha direito a algodão doce e o ingresso era três reais... Na peça da noite, a família onde o palhaço Piska-Piska morava queria arranjar um noivo rico prá filha e o escolhido era o filho do senador. O quanto de confusão que eles conseguiram arrumar valeu a noite e as infinitas gafes que os atores-palhaços cometiam deixavam a gente com dor de barriga de tanto rir. Com certeza, o melhor espetáculo mambembe que eu já assisti.
Voltamos tarde, já meio tristes que nossa estadia em Itararé rumava pro fim...
Domingo, dia 04
Já tava acabando... Pôxa... Nosso passeio mais que legal estava no último dia...
Café da manhã bem tomado e fomos a pé mesmo para o último destino: a Gruta da Barreira, exatamente na divisa entre Itararé e Sengés, entre São Paulo e Paraná, onde a guerra quase aconteceu...
O parque está semi abandonado, mas continua muito bonito. O Rio Itararé cava com força seu caminho, abrindo uma fenda na rocha, com direio à gruta que dá nome ao lugar. Nesta gruta, há duas imagens, uma pequena e uma bem maior, de Nossa Senhora, e já se tornou um lugar de visitação bem conhecido nas cercanias. Se beber da água da bica que tem dentro da gruta, diz a crença local, você certamente voltará para cá. Pelo sim, pelo não, tomei dois bons goles...
O paredão já tem mais de vinte metros, mas o impressionante é a profundidade do rio, que de margem a margem não tem mais que três metros: quarenta e cinco metros. Literalmente, um buraco! O Renato comentou que os suicidas de plantão sempre escolhem alí para ir desta para melhor, dando uma dor de cabeça gigantesca para os bombeiros...
Neste parque ainda tem, ou melhor, teve, um museu da Revolução Constitucionalista. Prefeito vai, prefeito vem, e por pura politicagem, caçaram o alvará da ONG que tomava conta do local. Resultado: mais uma boa idéia que não foi prá frente por causa de políticos... No desabafo do Renato: "A historia da cidade poderia ser resgatada naquele local, porque, foi passagem dos tropeiros, também foi palco da Revolução de 30 e 32, uma pena nossa cultura estar sendo um pouco esquecida".
Na volta, porque hoje era só na parte da manhã, queríamos comer uma iguaria local, chamada de bolo de frango. Só que chegamos na feira e tinha acabado tudo! A Monserrat fez uma cara de tamanha decepção, que um senhor da cidade, que tinha acabado de pegar o último dos moicanos, deu de presente o bolinho prá ela, que logicamente, não sabia onde se esconder...
Pedimos mais alguns salgadinhos e fomos para a casa do primo do Renato descarregar as fotos da câmera, porque o Renato queria porque queria algumas fotos que a gente tinha tirado dele e tinham ficado realmente boas...
Retiramos as coisas do hotel, meio tristonhos, despedimos do Renato, com muitas promessa de retorno, e fomos almoçar num self-service. Comemos pouco porque não estávamos com fome e porque tínhamos muita estrada pela frente...
Saindo de Itararé, passamos no mesmo posto de gasolina do dia anterior e pedimos para jogarem uma ducha no carro, prá tirar pelo menos uns dez quilos de barro que se acumulavam por todo lugar.
Sabendo que a falta da placa ia nos trazer problemas com a polícia rodoviária, fizemos um bolão, eu e a Mon: quem acertasse quantas vezes a gente ia ser parado, ganhava um presente do outro. Eu chutei duas e a Mon uma..
Tinha doze comandos pelo caminho e não é que a Mon ganhou o bolão?!?! Os guardas, quando percebiam que a gente tava sem placa, já era tarde e a gente só via pelo retrovisor a cara de espanto deles! Foi engraçado... valeu até o presente que eu tive que dar.
Enfim, chegamos de volta a Sorocaba, para nossa casinha, depois de mil quilômetros rodados, loucos para a próxima aventura.
Itararé não tem desculpas de ser tão pouco conhecida assim. É um lugar maravilhoso, com aventuras para todos os gostos e estômagos. Paisagens deslumbrantes e um povo com orgulho de ser caipira. A gente volta prá lá com certeza... E com mais gente! A gente leva o sol...

















