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- Fernando de Noronha - em águas claras
25 de junho a 02 de julho de 2000

Domingo, dia 25
Como o vôo para Recife sairia cedinho, às oito e quinze, eu precisava estar por volta das sete em Cumbica para o check-in. Saímos de Sorocaba às cinco e meia da manhã e oito e quinze estava decolando rumo à capital de Pernambuco.
Com uma parada em Salvador, por cerca de uma hora, fui chegar em Recife meio dia e meia e toca para o hotel, que Noronha só na segunda. Durante o vôo, fui papeando com um bombeiro e uma enfermeira recifense (não perguntei o nome!), que me deram muitas dicas sobre Fernando de Noronha, o que fazer e o que ver. Gente boa....
Chovia sem parar em Recife e estava meio que enclausurado no Fator Palace hotel, na praia de Boa Viagem. Esperei a chuva dar uma diminuída e peguei uma lotação para o Shopping Center Recife, o maior do Brasil e a única programação menos deprimente para um domingão chuvoso...
O shopping é realmente gigantesco e consegui encontrar uma lojinha, Bob Nick, que tinha short-john de neoprene e blusa de lycra para comprar, coisa que eu estava procurando já há algum tempo...
Os planos de visitar Olinda e Recife Antigo foram literalmente por água abaixo e a noite veio sem que eu pudesse fazer nada. Estar numa cidade estranha, com chuva e sozinho é muito chato!
Segunda, dia 26
Acordei e vi que o tempo tinha dado uma melhorada e resolvi conhecer a orla de Boa Viagem. O problema é que a praia é grande e acho que andei mais de dez quilômetros pela manhã, na mesma praia!
Boa Viagem é uma praia diferente... A começar pelas piscinas de arrecifes de cerca de dez metros de largura que acompanham toda a extensão da praia, uma mistura de coqueiros e chorões na orla, algumas jangadinhas para turista ver e passear, muita barraquinha de água de côco e placas para todo o lado proibindo o surf e desaconselhando o banho de mar.
Por conta de ataques recentes de tubarões a surfistas e banhistas, se alguém inventa de surfar ali tem seu material apreendido e leva multa! O pessoal de lá está mesmo preocupado com os tubarões que invadem as piscinas pelas falhas nos arrecifes. É uma pena, porque a praia é realmente bonita...
No almoço, consegui encontrar o meu suco preferido: mangaba! E me deliciei matando a saudade daquela fruta tão gostosa e tão difícil de encontrar aqui em Sorocaba...
Uma da tarde e o transfer estava no hotel para me levar ao aeroporto. Por congestionamento da pista de decolagem e por falta de condições de pouso em Natal (acho que era mal tempo...), nosso avião só decolou às três da tarde e chegamos às cinco e meia em Noronha.
O vôo demora uma hora e pouquinho, mas Noronha tem um fuso horário de uma hora para frente, daí a demora do vôo. Antes de aterrisar, o piloto comanda um vôo panorâmico pela ilha e das janelinhas do lado esquerdo do avião, todo mundo prepara as câmeras e começa uma foto atrás da outra do lugar mais bonito que já visitei.
Cheguei na pousada mais ou menos às seis horas e fui procurar lugar para comer. Ali por perto, tem o Tartarugão, com comida boa e lanches, com um detalhe: fecha às segundas! Encontrei um self-service, o Alameda do Paraíso, que não estava funcionando também, mas depois de uma implora, consegui jantar lá.
Fiz uma caminhada noturna pela estrada até perto da Vila dos Remédios e voltei à pousada. Com exceção do hotel Esmeralda do Atlântico (que tem cara de pousada!), todo mundo acaba ficando em casas modificadas pelos ilhéus para receber turistas. Eu fiquei na chamada Muvuca, que por sinal não estava uma muvuca assim...
Todas as noites, no centro de visitantes do Tamar, é ministrada uma palestra sobre um tema referente à ilha. Esta noite o tema foi a própria ilha! Deu prá saber o que nos esperava e prá sentir um gostinho dos pratos principais da ilha: praias e mergulho!
Sono cedo, às 23:30, e preparar para o primeiro mergulho no dia seguinte.
Terça, dia 27
Naquela ansiedade toda, desde às cinco e meia da manhã já estava acordado e preparando as coisas para o mergulho. Tomei café às sete e às sete e meia a perua das Águas Claras, a operadora de mergulho, estava na pousada para me pegar. Com a Zaira de motorista, fomos ao porto pegar o barco.
Toda aquela preocupação: será que vou conseguir equalizar o ouvido? será que vou usar ar demais? será que a câmera não vai inundar? tudo isto me entupia a cabeça, mas descobri depois que não era o único nas mesmas condições!
Apresentado à “tripulação” do barco, o dive-master Lisandro já fazendo o tal de briefing, para explicar o roteiro de mergulho, uns golfinhos acompanhando a gente por um tempo... Foi vestir o equipamento e pular nas águas claras e mornas para entrar num mundo totalmente diferente de tudo que eu já tinha experimentado!
O primeiro mergulho foi na parte de dentro da Ilha da Rata, numa profundidade que chegou a 28 metros e durou cerca de trinta minutos. Muito peixe e um visual super legal! O único problema foi que mergulhei com muito lastro (oito quilos) e gastei muito ar tentando nivelar, mas tudo bem... A estréia em Noronha foi demais!
O segundo mergulho foi na parte de fora da Rata, para a gente pegar o que eles chamam de drift, uma corrente entre duas ilhas que é como um rio em que você se deixa levar. Chegamos a quinze metros e durante quarenta minutos curtimos a paisagem, com moréias, arraias, um linguado muito maluco, muitas barracudas e zilhões de peixes. Duas grandes âncoras cheias de cracas completavam a paisagem deste drift, que estava meio com pilha fraca, mas mesmo assim muito legal.
Almoço na Alameda do Paraíso e toca andar à tarde para conhecer outros lugares da ilha... Mochila nas costas, caramanhola cheia, máquina fotográfica ok e toca para o Mirante dos Golfinhos. As caminhadas não são longas, mas o sol é forte e o calor também. Volta e meia uma chuva passageira pega você e é bom que as coisas que você não queira molhadas estejam protegidas...
Após uma chuvinha já no mirante, comecei a percorrer a Trilha dos Golfinhos, que ia até a Baía dos Porcos. O que eu vi foi uma sucessão das praias mais bonitas que eu já observara em minha vida. Dos mirantes a cerca de trinta metros de altura, nas falésias, a Baía do Sancho é maravilhosa e a Baía dos Porcos é indescritível! Pelo nome, acho que deve ter sido uma burrada enorme se alguém já usou aquele lugar para abrigar porcos... Cartão postal da ilha, os Dois Irmãos completavam a paisagem desta maravilha. No Sancho ainda tem os lances de escada entre as rochas para ter acesso à praia. Desci e fotografei a cachoeira, que só nesta época chuvosa aparece.
Continuei a trilha e o que é da dita-cuja? Tentei um caminho e nada, tentei outro e nada também. Tudo indicava que a trilha terminava alí, mas eu sabia que tinha uma trilha que voltava ao Boldró. Após meia hora de tentativas e pernas riscadas pelo mato, com o rabo entre as pernas, voltei pela trilha do Sancho.
Cansado de andar pelo barro da estrada, cheguei no mirante do Forte São Pedro do Boldró e fiquei esperando o pôr-do-sol. Nisto, uma agitação em torno de uma loira que não reconheci de imediato, mas só dava prá saber que era famosa. Diante dos comentários mordazes de algumas mulheres com o cotovelo em coma, e obviamente depois de ela colocar o véu, percebi que estava diante da Joana Prado, a Feiticeira, que fazia uma matéria para o O+. Matéria concluída, fila para tirar foto ao lado da sex-symbol. Eu, um caco pelas cinco horas de caminhada e ela maravilhosa. Pensando bem, mesmo se ela que tivesse feito as cinco horas de caminhada e eu recém-saído do banho, a situação não mudaria nada...
À noite, com o Tartarugão aberto, matei minha fome de junk-food e fui logo pedindo um X-Salada! A palestra do dia (noite) foi sobre tartarugas marinhas e o projeto Tamar. Ótima e divertida!
Volta à pousada a tempo de assistir o meu tricolor paulista despachar o Palmeiras por 3 a 2. Não consegui assistir o jogo até o final, porque o sono estava muito grande...
Quarta, dia 28
Alvorada às 06:30, café da manhã, e às 07:30 a Zaira já estava na porta com a perua esperando para me levar até o porto.
Quando o Lisandro começou a passar o briefing, estranhei: iríamos mergulhar nas cordilheiras! Um ano atrás eu fiz um trekking pelas cordilheiras, mas mergulho? O nome foi dado para uma formação de grandes pontões, ou cabeços, de rocha que vinham de trinta, quarenta metros de profundidade e quase afloravam à superfície. Chegamos a vinte e oito metros, num mergulho de aproximadamente 35 minutos e, fato importante, meu primeiro tubarão!
O primeiro tubarão a gente nunca mais esquece... Um lambaru, com jeito de brinquedo da Disney querendo dormir, o que era impossível com o espoucar de flashes de todos os lados... Alguns dos flashes foi por minha conta, que obviamente queria registrar o momento...
Depois, no segundo mergulho do dia, caímos no Buraco do Inferno, um dos nomes mais descabidos que eu já vi para um lugar! A menos que estivessem querendo fazer propaganda enganosa do inferno, não entendi o motivo: uma gruta com apenas uma partinha de seu topo não inundado, que quando a onda vinha soltava um bufo com um spray de gotinhas (talvez daí o nome...), mas que quando dentro dela, era uma gruta com uma cortina de peixes barrigudinho, maravilhosa, com um espaço dentro dela que você podia respirar sem o regulador. Saindo do tal buraco, continuamos com a parte rasa da cordilheira. Um mergulho light, onde a chegamos somente até quinze metros e durante quarenta minutos ficamos a ver peixinhos, arraias e barracudas. Tão light que quase perco minha câmera na hora de embarcar! Ao tirar o colete, a câmera escorregou da mão e começou a afundar. A Paula, que não é boba nem nada, percebeu e rapidamente pegou a câmera e, como pedágio, tirou uma foto dela mesma e passou a câmera para mim... sem perceber que eu não sabia que ela a passara e lá vai a câmera de novo ao fundo! O Ceará tinha ido prá baixo procurar a câmera e qual não foi seu susto ao ver a dita-cuja descendo calmamente até ele... Mais um pedágio, e minha câmera estava salva!
Almoço no Alameda do Paraíso e toca a esperar o transfer para meu passeio de barco com, esperava-se, golfinhos... Quase que me esquecem mas, tudo bem, na hora estava no barco com mais umas vinte pessoas, com a câmera na mão e pronto pra curtir a paisagem de um ângulo diferente!
Passamos por todas as “praias de dentro”, que são chamadas assim por estarem voltadas para o continente: Biboca, Cachorro, Conceição, Boldró, Americano, Bode, Cacimba do Padre, Baía dos Porcos, do Sancho, dos Golfinhos, Enseada do Portão e Ponta da Sapata. Ufa! Quanta praia! E todas belíssimas! Na volta parada na Baía do Sancho para um snorkelling de uns quarenta minutos e volta pro porto... Até aí, nada de golfinhos...
Então, passaram um rádio do porto, dizendo que os golfinhos estavam na frente da Praia do Cachorro, e o barco acelerou para lá. Muito divertidos estes animais: acompanham o barco e dão saltos em parafuso (daí o nome: golfinhos rotatores), extasiando o público. Como golfinhês não é uma das línguas que domino, ainda mais o dialeto rotatoreiro, eu não tinha a mínima idéia de onde eles iriam saltar e restava ao ignorante aqui tirar fotos dos que acompanhavam na proa da embarcação. Mas valeu, porque golfinho é um bicho realmente bonito de se ver.
Voltando à ilha, fui até a praia do Boldró tirar umas fotos do pôr-do-sol e escolhi umas pedras do lado direito. As fotos saíram ótimas... Sairiam ainda melhores se eu soubesse manusear melhor minha máquina para equlibrar o claro-escuro...
À noite, a palestra foi sobre Ilhas Oceânicas e depois, já tombando de sono, tentei assistir o empate vexaminoso do Brasil contra o Uruguai. Não consegui. Dormi e ponto final no dia.
Quinta, dia 29
Acordei revoltado: porque aquele tal de Pedro, apóstolo de Jesus, não era latoeiro, ou cobrador de impostos? Tinha que ser pescador e, com isso, como hoje era seu dia, nada de barco, nada de mergulho... e nada de luz, que tinha acabado a força na ilha!
Pra fazer alguma coisa (como se isso fosse difícil...), combinamos de fazer a trilha Atalaia-Caieiras. Fui eu, o Maurício, a Kátia, um casal de japoneses com sua filha (eu não perguntei o nome deles e olhe que tornei a encontrá-los várias vezes na ilha... falha minha!). Guiava-nos o Artur, marido da Patrícia, a chefe dos guias locais.
Atalaia é uma praia diferente na ilha. Somente cem pessoas por dia podem banhar-se na suas piscinas, e isto num horário estipulado pelo Ibama de acordo com a tábua de marés. Mergulha-se por cerca de vinte e cinco minutos e pronto! Chega de Atalaia.
Saímos de lá com a visão de uma parede branca que chegava ao nosso encontro. São Pedro, que além de pescador, acumula funções de Porteiro do Céu e Comandante do Bom e Mau Tempo, estava a comemorar seu dia... E que comemoração! Toca proteger as câmeras secas e tudo o mais que não pudesse ser molhado. Quanto a nós mesmos, um banho de água doce, mais quente que o dos chuveiros, não era de todo mal. Teríamos mais três destes banhos antes de terminar a trilha.
A trilha mesclava passagens com barro até as canelas com outras de pedras e mais pedras. O visual belíssimo fazia a gente esquecer qualquer coisa e assim, três horas depois, passando pela caverna do Capitão Kid, chegamos nas Caieiras, que também tinha suas piscinas. O problema era que o mar estava meio virado, e as ondas estavam passando por cima dos arrecifes, o que tornava perigoso o banho. Ficamos a admirar a paisagem e tirar fotos das ondas e dos aratus, aqueles caranguejos avermelhados, que por ali faziam sua convenção.
No final da trilha, tempo para tirar fotos das Pedras Rasas e do famoso Buraco da Raquel, uma pedra de cerca de cinco metros de altura com um buraco, formado pelo bater das ondas. A origem do nome gerou várias lendas, algumas publicáveis e outras não.
Hoje nem almoço teve, por conta da hora que voltamos e combinamos, eu, Katia e Marício, fazermos a Trilha da Costa Esmeralda, durante a tarde. E lá se foram as praias do Boldró até o Sancho, numa caminhada pelas areias, algumas escadas no meio do mato e umas passagens de escalada (simples) em rocha, quando as ondas não permitiam outra coisa.
Todo mundo zen. Zen preocupação além de tirar fotos legais, zen chuva forte que atrapalhasse, zen machucados sérios. Só cortinhos nos pés e mãos que às vezes as pedras faziam.
No Sancho a Kátia, alegando síndrome de abstinência do mar, ficou pela praia mesmo, enquanto eu e o Maurício subimos a escadinha do Sancho para tirar fotos lá de cima.
De volta, chegamos à noitinha no Mirante do Boldró e papeamos um tempão com a Tânia, a bartender da Jack, o barzinho dali.
À noite, palestra relâmpago do Lisandro sobre o Atol das Rocas e chuva, chuva, chuva... A festança lá em cima devia estar animada! Despedi-me da Kátia, que ia embora na sexta.
Nota: terminei o Endurance, livro sobre a expedição malograda de Shackleton à Antártida, que eu lia nos pit stops entre o banho e as outras atividades. Ótimo livro, belíssimas fotos e uma aventura sem igual.
Sexta, dia 30
Dia de tirar o atraso de mergulhar! Dois de manhã e dois à tarde! Vamos para os da manhã...
Primeiro mergulho: Ponta da Sapata. Mar agitado, rapidinho tinha gente passando mal. A Paula já não estava legal e principalmente uma uruguaia estava olhando para todos lados tentando achar o Hugo. Logo, logo ela começaria a chamá-lo...
Nos jogamos rapidinho na água porque lá embaixo era menos agitado. Eu, quando fui dar o passo do gigante para sair, o barco se moveu e foi um passo do homem de pequena estatura, para ser politicamente correto...
Debaixo d’água, a coisa muda. Descemos a 28 metros guiados pela Cláudia e a meio caminho da caverna, passamos pelo Jardim das Enguias! Um campo plano, onde milhares de enguias ficam com meio corpo fora dos buraquinhos, parecendo talos de flores. Até onde a vista alcança ficam elas, esperando a comida, se escondendo rapidamente quando você se aproxima.
Chegamos à caverna, e fomos até onde já não tinha mais luz a não ser a da boca da caverna, a uns quinze metros. Tiramos algumas fotos na contra-luz da abertura e saímos logo dali, porque o ar começava a acabar. Após 40 minutos de mergulho, voltamos ao barco.
O mar chato que estava, fazia o estômago revirar. Torcíamos para chegar logo no próximo ponto de mergulho e tivemos que nos equipar na Baía do Sancho. Mergulhamos na Laje dos Dois Irmãos, do lado de fora da Baía dos Porcos, com a Cláudia ainda como líder.
Nem cinco minutos de fundo e o sinal de tubarão no visual estava dado! Um bico-fino passou como quem não quer nada a cerca de quinze metros da gente. Seguimos entre barracudas e arraias e nenhum outro tubarão, por um mar que condizia com a superfície, cheio de correntes e mexido pelas ondas, o cardume de mergulhadores seguia de lá prá cá, desistindo de lutar contra o mar. Chegamos a vinte metros e o mergulho durou quarenta minutos...
Voltei à pousada e menos de uma hora depois estava de volta ao barco. Como a Águas Claras tem dois barcos e um deles estava rumando para mergulhar na Corveta, um mergulho mais técnico a mais de cinquenta metros, fiquei com o barco do batismo, dito assim porque reunia o pessoal que nunca tinha mergulhado e o fazia pela primeira vez assistido por um dive master. Como único credenciado a bordo (dive master não conta), mergulhei eu, o Gino e mais um cara que pesquisava tubarões por alí (ok. não sei o nome também...).
Meu recorde de descida foi ali: 31 metros! Juro de pé junto que não parecia... Ficamos quarenta e dois minutos lá em baixo curtindo a paisagem. O Gino perguntando a cada meio segundo se estava tudo ok... Nada de tubarão, apenas algumas arraias, barracudas e, claro, zilhões de peixinhos, aquele nosso passeio pelas Cagarras Fundas!
Voltei pro barco e esperei o Gino fazer o batismo de uma pessoa (em nome da Tartaruga, do Golfinho e do Tubarão), e pulamos de novo na água, agoras nas Cagarras Rasas.
Já ambientado com aquele ambiente molhado, desta vez só com o são paulino Gino, deixava a mente escapar para outras praias. Cantarolando mentalmente, pensava na boa aquisição que tinha sido o material de mergulho. Tudo da Cressi, o pé de pato não cansava, a máscara adaptava-se perfeitamente ao rosto e era muito clara. O snorkel funcionava, o que era um feito, de acordo com minhas experiências anteriores. O short-john da Rip Curl, adquirido em Recife, era ótimo e curtindo a paisagem durou quarenta e cinco minutos, chegando a vinte metros, o nosso mergulho. A máquina, uma Sea&Sea MX10, com flash YS40, avisava que tinha terminado um filme lá embaixo mesmo, numa foto de um casal de frades. Casal de frades soa estranho, né?
À noite, depois de dar umas dicas de internet para o Gino e lanchar no Tartarugão, fui para a palestra sobre Tubarões. Ótima, mas com o sono que eu estava, a cada piscada perdia dois ou três tubarões... Terminada a palestra, despedi-me do Maurício que ia embora no dia seguinte e queria dormir, dormir, dormir...
Sábado, dia 01
Minha última saída para mergulho. Já estava com depressão pré-parto... O detalhe é que foi chave-de-ouro os dois últimos mergulhos...
Primeiro, no difamado Buraco do Inferno, partindo para a casa da Lola. A Lola é a dona das Águas Claras que não estava na ilha desta vez e sua casa é uma caverninha com abertura dos dois lados, onde a gente passa e fica vendo as bolhas dos outros mergulhadores atravessando a rocha porosa.
De repente, a Zaira, que estava guiando, tira o regulador da boca e grita sem som: tartaruga! Todo mundo voando prá lá, tirando muitas fotos da pop-star-taruga (permitam-me o trocadilho, eu não resisti...). Legal demais, ela ficava visivelmente contrangida com tanta atenção... Trinta e cinco minutos depois, chegando a vinte metros, terminara o nono mergulho da série.
No último mergulho, fomos aos Chapeirões, na Ilha do Meio. Chegamos a dezoito metros e durante trinta e cinco minutos apreciamos um show! Começou com muitos peixes e passagens por frestas seguindo a Zaira, que já pensava em mudar a profissão para costureira...
De repente a Zaira avisa que tinha um tubarão numa toca. Era um lambaru ou lixa, e a galera aglomerou-se tanto que fiquei com dó do bicho! Parecia um cardume de barracudas famintas atacando um indefeso sargentinho!
Seguindo, a Zaira mostra um bando de dez ou doze lagostas numa fresta e quando preparava para tirar a foto ela se vira e aponta afobada para cima. Um enorme cardume de sardinhas cobria toda a água acima, até onde a vista alcançava. De repente, uma barracuda passava se refestelando pelo meio do cardume e este abria-se rapidamente num túnel. Fazia o mesmo com as bolhas que a gente soltava. Show mesmo, e muitas fotos foram levadas dali.
Despedida perfeita! Pena que acabou... Agora só na próxima... Snifs mil...
À tarde, esperei a Patrícia para fazer a trilha da praia do Leão, mas ela não pôde ir. Fui assim mesmo e sozinho rumei ao Sueste, uma praia bem conhecida por ter muitas tartarugas e tubarões. Fotografei de cima e como queria ir até o Pontal das Caracas, que eu sabia a direção e não queria voltar para a estrada, tentei ir pelo mato mesmo. Como esperado, besteira numero um do dia... Depois de tentar e inundar minhas pernas de cortes pelo mato, voltei à estrada e rumei às Caracas.
O Pontal das Caracas é uma formação de platôs pouco acima do nível do mar, que as ondas não cansam de invadir. É bonito e rende fotos legais. Toca para o Leão...
A Praia do Leão, considerada uma das mais bonitas da ilha, estava de maré cheia e suas piscinas estavam sob as ondas. Uma pena e mais uma desculpa para voltar. A praia tem este nome por um monte em frente à praia que tem o formato de um leão. Juro que não vi leão nenhum! No máximo, um hipopótamo...
Desci à praia e momento para a besteira número dois, esta bem caprichada! Na ânsia de tirar fotos bonitas, fui até o extremo direito da praia, onde há rochas por toda a parte e resolvi subir num morrinho de seus quinze, vinte metros, para ter um visual melhor. Realmente, o visual era demais, mas depois, quando resolvi descer, não sabia por onde tinha subido!
Fiquei um tempo tentando descobrir, e como estava sozinho, não podia nem ter uma segunda opinião. Se caísse, não deveria ter um acidente grave, mas ia me machucar. Com o coração na boca, fui descendo aquele morro de pedras soltas e esfarinhando. Uma delas me caiu no pé e doeu prá caramba! Cheguei à praia dez minutos depois, me chamando de burro a cada dez segundos e disposto a nunca mais fazer isto. Pessoalmente, como cabeça-dura de carteirinha, duvido que não o faça, mas vale a intenção...
Volta ao Boldró sob um sol de lascar e já com a caramanhola seca, cheguei meia hora antes do pôr-do-sol, e fui pedindo o que tinha de líquido lá! Um tampico (delícia de suco de frutas cítricas), um côco gelado e finalmente um côco “ao tempo”, já que tampico e côco gelado não tinham mais.
Com o tanque fora da reserva e agüentando piadinhas da Tânia, fui ver o pôr-do-sol, que anunciava-se belíssimo. Lá já estavam o Samuel e o Aluysio, com suas bikes. Do Forte de São Pedro do Boldró, com céu limpo, foi o fenomenal o entardecer.
No pit-stop, terminei o livro “Mar sem fim”, do Amyr Klink. Ô cara prá fazer aventuras, sô. E parece que ele está colhendo frutas no quintal...
A palestra da noite foi sobre Penedos de São Pedro e São Paulo, que o Lisandro fez numa lut atroz com projetor de slides reserva, que devia estar naqueles dias...
Domingo, dia 02
Último dia, resolvi madrugar. Cinco da matina, com mochila nas costas, num breu e sem lanterna, rumei ao mirante dos golfinhos. Cheguei lá antes das seis e nenhum ser humano no lugar, na companhia de muitas pererecas, ratinhos sem rabo chamados mocó, pernilongos irritantes e com a claridade, as lagartixas mubuias.
Umas vinte prás sete, eles apareceram, os golfinhos! Eu, já com minha Pentax no tripé, zoom de 200 milímetros a postos, esperava a aproximação.. Qual não foi minha decepção ao ver que eles deram uma olhadinha, não gostaram do que viram e deram meia-volta.
Saí correndo com a câmera ainda no tripé e deu prá ver os bichinhos pulando na divisa entre a Baía dos Golfinhos e a do Sancho. Mas foto que é bom, neca de pitibiriba...
Já que não tinha chance de fotos de golfinhos, corri para a pousada para tentar tomar o café da manhã e consegui uma carona no ônibus da Luck. Café bem tomado, fui fazer algumas comprinhas e preparar para arrumar todas as coisas para a viagem de volta.
Com tudo arrumado, ainda deu tempo para assistir a Fórmula Um e o terceiro lugar do Barrichelo.
A volta foi chata! Apesar de ainda dar prá fazer amizade com uma turminha que estava voltando, a Cris, a Karina e seus amigos, dava uma tristeza muito grande estar deixando aquele lugar e voltar para minha Sorocaba fria, poluída e seca.
Fuso horário normalizado, voei para Recife, depois passei pelo Galeão, no Rio e onze da noite estava em Cumbica. Nem vale a pena falar nada sobre os vôos...
Considerações finais. Se você quiser um lugar maravilhoso, com as praias mais bonitas que existem no Brasil, com mergulhos inesquecíveis, com pessoas muito atenciosas e receptivas, vá para Fernando de Noronha! Foi minha primeira experiência de viagem solo, sem nenhum grupo formado e ninguém que eu conhecesse, e foi ótimo. Você se permite ir a lugares que não iria em um grupo e a fazer seu próprio tempo. Bom treino para o Caminho de Santiago, que um dia farei.
Ficam as lembranças de um paraíso que, apesar de estar no Brasil, está mais próximo da África que da minha casa. Pode anotar aí, que um dia eu volto...



















