Expedição Estrada Real

19 a 27 de maio de 2007

dia 19 - Sorocaba a Diamantina

Eram 5:15 da manhã, plena madrugada e todas as coisas já no carro esperando pela gente. Estávamos para começar uma lua de mel diferente, bem aventureira : pela Estrada Real, de Diamantina a Paraty.

Sabadão, tudo ainda fechado, só conseguimos tomar um café depois de São Paulo, numa loja do Frango Assado, onde a Mon comprou dois quilos de mexirica!! No final da viagem ainda tinha duas restando...

De Sorocaba, ou melhor, de Mahassé, nossa chácara, até Diamantina eram mil quilômetros e ia ser o dia inteiro dirigindo. Então, Castelo Branco, Fernão Dias, BR040, saída para Curvelo, onde a estrada ficava bem mais bonita, passando por dentro do Parque Nacional das Sempre Vivas, chegamos em Diamantina  às 17:45, na boca da noite, loucos por um banho gostoso e curiosos pelo evento da cidade, a Vesperata.

Encontramos a pousada do dia, a Sempre Viva, tomamos um banhão e fomos para o centro histórico ver como era esta história toda.

Após uma grande ajuda do Fabrício, da pousada Relíquias do Tempo, conseguimos ingressos ( na verdade cadeiras em mesas ) e fomos prestigiar curiosos a tal homenagem a Vesper...

Ficamos longe, muito longe, numa subida e com a mesa bem inclinada. A Mon queira ir embora, mas resolvemos esperar e foi bom, porque por volta das nove da noite a brincadeira começou.

Imagine uma cidade bucólica, bem pequenina, no meio de Minas Gerais. Agora visualize um beco dentro desta cidade, cheio de casas antigas, cheio de mesinhas de plástico e com um tablado bem no centro do beco. Ok, agora ponha muitas, mas muitas pessoas, lotando o beco, ocupando todas as cadeiras, as sargetas, encostadas nas paredes. Aí então chegam os músicos...

Saindo de uma ruela atrás de nós, chegam vários adolescentes, com trombones, flautas, bumbos, tubas e não sei mais o quê, e rapidamente entrando pelas casas do beco, aparecendo nas sacadas dos sobrados. O tablado do meio é ocupado por dois maestros que regem a orquestra insólita, tocando de tudo um pouco, de Mozart a Roberto Carlos e tudo parece fazer sentido... Completando com a Penelope, a britânica que ficou conosco na mesa, se você descuidar acha que está em um episódio de Além da Imaginação.

Duas horas depois, com gente dançando pelo beco ( acho que pelo nome da pousada era Beco do Mota, da música do Milton Nascimento ), a gente resolve ir dormir, pois o dia tinha sido bem longo, quando um cara que nunca tinha visto antes, segura meu braço e me diz que não podemos ir sem a saideira. Vamos lá!! Mais uma música. O baile que teria depois tivemos que dispensar, mas que teve, teve.

 

dia 20 - Diamantina

Domingão de sol, um pouquinho de frio, e um compromisso: ver o sarau do Arte Miúda, na Igreja do Rosário. Chegamos meia hora antes e tudo lotado! Gente saindo pelo ladrão, portas laterais das igrejas abertas e, sentados no chão, vimos um momento de rara beleza mineira, um coral de crianças cantando músicas de seresta, acompanhados por seresteiros de violão e cavaquinho, com as solistas se caracterizando de Chiquinha Gonzaga, Chica da Silva, enfim, muito, mas muito bonito!

Corremos para fechar a diária na pousada e rumar para outra, a Relíquias do Tempo, da Carmem. É um casarão antigo, muito bem arrumado, onde o tempo parece que parou e convidou os outros tempos para tomar um chazinho... Ficamos em um quarto com vista para a Serra dos Cristais e saímos para almoçar.

No mesmo beco, escolhemos um barzinho e pedimos uma porção. Enquanto comíamos, uma senhora de seus mil e tantos anos, com uma sanfona, acompanhada de meninas vestidas de pastorinhas, com dez anos no máximo, para na praça ( beco??) e começam a cantar e dançar músicas folclóricas. Maravilhoso.

Almoçamos tão bem que só tomamos um chazinho da tarde e nem jantamos.

Diamantina é realmente preciosa. Longe da nossa casa, mas com jeito de casa, de gente acolhedora e apreciadora de uma seresta, lar de JK e seu Peixe Vivo. Lugar para retornar um dia...

 

dia 21 - Diamantina a Mariana

Acordar cedo, num quarto super simpático, tomar um café delicioso, assustar com o preço do álcool (quase o dobro de Sorocaba), decidir colocar gasolina e se preparar para começar o trecho de estrada real. De acordo com as informações que tínhamos, era um longo trecho de terra até Mariana, e muitos nos aconselharam a fazer o trecho via BR040, mas como a gente é turrão, decidimos ir pela terra mesmo.

Bem, já no começo fomos apresentados ao nosso novo amigo, o marco. Em minúscula mesmo. A Estrada Real tem marcos em toda a sua extensão e se não fosse este nosso novo amigo, certamente estaríamos até agora perdidos em alguma cidadezinha mineira...

E lá vêm Vau, São Gonçalo do Rio das Pedras, Milho Verde, Serro, Alvorada de Minas... E lá vão Itapanhoacanga, Córregos, Conceição do Mato Dentro... E lá vai também nosso bom humor!! Haja estrada de terra!! O carro está um pó só. Morrendo de fome, comemos alguma coisinha bem fajuta em Morro do Pilar e toca enfrentar mais terra, agora até Itambé do Mato Dentro e depois até Ipoema, margeando a Serra do Cipó. O nosso amigo marco continuava a nos dizer o caminho certo e a gente dava tchauzinho prá ele cada vez que o avistava. Me lembrou o menino que desce de Macchu Picchu até Aguas Calientes, desejando boa viagem a cada curva. Prá gente, era o mesmo marco e uma felicidade cada vez que o avistávamos.

Sorte nossa que não chovera, porque com barro a coisa ia ficar muito feia... Quando chegamos em Ipoema, já precoupados de pegar estrada de terra de noite, a grande boa notícia. Daqui prá frente, depois de 250 Km de terra, enfim o asfalto...

Chegamos em Mariana por volta das seis da tarde, já de noite e com o trânsito à toda devido às mineradoras da região que acabaram por eleger Mariana como cidade-dormitório. A primeira impressão da cidadezinha histórica foi ruim, mas sabíamos que não deveria ser assim. Com certo custo, já que a sinalização para o turista que não vem de excursão é pouca, encontramos a Pousada do Chafariz, onde passaríamos a noite. Estávamos tão cansados que fomos ao restaurante da própria pousada e dormimos bem cedo. Cheguei a acordar de madrugada com a sensação de cama empoeirada...

 

dia 22 - Mariana a Ouro Preto

De Mariana para Ouro Preto era coisa de dez quilômetros, então fomos conhecer a cidade histórica-dormitório... Como todos os operários já tinham ido trabalhar, Mariana vestiu novamente a roupa de cidadezinha e nos propiciou momentos bem legais.

Conhecemos o Ateliê de Marionetes de Catin Nardi, que fez alguns bonecos da série da Globo Hoje é Dia de Maria, a casa de Alphonsus de Guimaraens, com sua poesia meio obsessiva com a morte, o Museu Arquidiocesano, com muitos santos e outros itens religiosos e a Igreja de São Pedro dos Clérigos, onde foi-nos contado causos da cidade. As igrejas são cada uma para um tipo de pessoa, uma para padres ( a que estávamos ), um para brancos, outra prá pretos, outra para comerciantes, outra prá mineradores, outra para orientais e ainda outra prá pobres. É triste ver tanta segregação em um país que se diz miscigenado, mas foi o que a igreja fez lá. Dividir para conquistar sempre foi o lema de quem tem o poder....

Meio dia voltamos para a pousada, colocamos as coisas no carro e fomos para a distante Ouro Preto. Meia hora sem pressa depois, chegamos.

A pousada que tínhamos reservado pela internet era tudo menos apropriada. Longe do centro histórico, feia ( por fora, nem entramos ), decidimos procurar outra. Na rodoviária, o Fernando, funcionário da prefeitura, nos indicou a Pousada dos Bandeirantes, que era mais barata, no centro histórico e mais simpática. Bem feito prá gente, que perdeu meia reserva...

O carro então, resolveu não funcionar o alarme. Levamos em um mecânico, jogador do Esporte Clube Tabajara, que nos disse que poderia ser problema no módulo do alarme ( na verdade era fusível solto ) e ele desativou o alarme ( com o som junto!! ) para podermos prosseguir viagem.

Estabelecidos, com lugar prá dormir, fomos procurar lugar prá comer, já que eram mais de duas da tarde e o estômago rugia de fome. Comemos no Relicário 1800, um restaurante feito dentro de uma antiga senzala. Simpático, com uma pizza gostosa, comemos e apreciamos a beleza do local. Saimos para ver as lojinhas, os museus e as igrejas, nesta ordem. A cidade, antiga Vila Rica, é famosa pelos episódios da inconfidência mineira, onde Tiradentes e seus amigos tramaram a independência do Brasil, foram descobertos e a cabeça do famoso dentista foi exposta na praça principal da cidade, onde hoje há um grande monumento.

Lojinhas prá cá e lojinhas prá lá, todas vendendo pedrarias, a grande vedete comercial da cidade. Das pedras, o topázio imperial, extraído nas cercanias e que não existe em outro local no mundo, era a mais prestigiada. Muita coisa de pedra sabão e muita, mas muita oferta de pousada, guia, etc e o escambau. Chato prá caramba, mas era só dizer que não queria umas dez vezes que nos deixavam em paz...

O Museu da Inconfidência era uma cadeia na parte de baixo e a câmara municipal na parte de cima. Se fosse hoje, ficava fácil resolver as coisas, com um alçapão, mas ao mesmo tempo ficava difícil saber em qual andar estaríamos... Tem muita coisa bonita, muita escola visitando o museu e, tirando a falta de placas de informação, devido a um problema com licitação, muito divertido.

O mineiro tem um jeito bem diferente do paulista, menos desconfiado e que olha você nos olhos. É bem mais agradável que esta nossa paranóia constante com tudo, parece uma coisa que o povo caipira já teve, mas perdeu e só lembra de vez em quando...

Fomos ao Museu do Aleijadinho, que era completamente diferente do outro, mas bem mais pitoresco. Com várias obras dele mas com principalmente a sensação da presença antiga do mestre em vários detalhes, é grudado em uma igreja, o Santuário N. S. da Conceição, onde o próprio aleijadinho está sepultado, em um dos muitos túmulos que compoem o chão da igreja. Pareceria macabro, mas não é. É na realidade muito bonito e muito singelo, com a igreja tendo como paredes muitos altares, cada um feito por forças leigas.

Museus vistos, voltamos às compras, na feira da praça. É uma muvuca, mas bem divertido. Compramos alguns presentes pro pessoal de casa, brigamos com alguns vendedores chatos e saímos de lá carregados.

Volta prá pousada, que a chuva ameaçava, banho gostoso e fomos jantar no Bené da Flauta, um restaurante perto da pousada, onde comemos sopa de abóbora (eu) e canja de galinha (Mon). Choveu forte enquanto jantávamos e assim que parou, fomos dormir, pois estávamos um pouco preocupados de perambular à noite pelas vielas da cidade, que pareciam bem menos seguras depois que escurecia...

 

dia 23 - Ouro Preto a Tiradentes

Amanheceu com sol! Nada da chuva da noite anterior!! Vamos prá Tiradentes!! Antes, correr no Instituto Estrada Real para pegar mapa da estrada, que era muito bonito. Valeu a espera até quase dez horas!

A estradinha de Ouro Preto prá Tiradentes é bem tranqüila e bucólica, serpenteando por cidades como Ouro Branco, Congonhas, Entre Rios de Minas, Lagoa Dourada, entre outras e chegando rápido em Tiradentes, prá descobrir que a pousada estava longe, para os parâmetros da cidade, do centro histórico.

O problema em Tiradentes é que a cidade é minúscula, com cerca de 5000 habitantes, e qualquer coisa a 600 metros de distância é longe demais. Enfim, preferimos ficar lá mesmo e ir de carro, porque a chuva estava ameaçando cair forte e a pé, naquele frio, não ia ser agradável.

A cidade vazia nos propiciou um almoço gostoso por um preço justo no Panela de Minas, um dos poucos restaurantes abertos naquela quarta feira. Comemos e, já cansados de igrejas e museus, resolvemos ver o que tinha de legal nas lojinhas da cidade. Foi aí que Monserrat se apaixonou pela cidade...

Primeiro um atelier meio que depósito de quinquilharias simpaticíssimo, depois uma confecção de móveis com preço a metade do preço de São Paulo, depois várias lojinhas de tecidos, ainda vários casarios lindos, com ruas vazias, e a espanhola foi se deixando seduzir pela cidadezinha. Nem a chuva que nos ilhou na loja da CiaArt desanimou-a. Junto com a gente, na mesma loja, uma multidão de senhoras em excursão, bloqueadas pela mesma tempestade, confundiam-me a todo tempo com os vendedores da loja e, para diversão da Mon e dos vendedores, o chamado de "Moço, moço.." era a senha para eu me constranger, responder o mais simpático possível à senhora com uma rede ou almofada na mão e desencadear uma crise de riso nos outros. Foi legal, mas foi mais legal para os outros que prá mim...

Voltamos à pousada Villa Alferes prá um banho, enquanto chovia e depois voltamos para comer uma massa em um dos poucos restaurantes abertos na cidade. Pegamos justo um que não aceitava cartão e lá vai um pouquinho do dinheiro vivo... Comemos gostoso e voltamos à pousada porque não tinha mais nada a fazer por aquelas paragens.

 

dia 24 - Tiradentes a Passa Quatro

Um "Café com Xuxa" (isso lá é música ambiente prá café da manhã???), seguido da perda do controle remoto do portão, fazendo as camareiras abrirem um portão nos fundos que, de tão enferrujado, precisou de umas quatro pessoas para abri-lo, fez-nos concluir que voltaremos a Tiradentes, mas não a esta pousada. A filosofia acolhedora mineira pareceu passar a pelo menos 600 metros daqui...

Como nos disseram que São João del Rei era feio no meio da semana e que só valeria a pena uma passadinha se fosse de maria-fumaça e esta só funcionava no fim de semana, abandonamos o plano de dormirmos esta noite lá, na pousada Rotunda, que já tínhamos reservado, para ganhar um dia em Paraty. Ligamos para Passa-Quatro e conseguimos adiantar a reserva!! Vamos lá então!

Não era longe. Caminho tranqüilo, por uma via alternativa, por Madre de Deus de Minas e São Vicente de Minas, afastou-nos de Carrancas e levou-nos a Cruzília e Caxambu, onde almoçamos.

Daí era pertinho prá chegar em Passa Quatro. Depois de Itanhandu, da própria Passa Quatro, chegamos no local de pernoite, um pouquinho além da cidade, o Sítio Pousada da Tia Ana, onde fomos recebidos pelo Zé Roberto, muito simpático, por volta da três da tarde. Como Passa Quatro é bem alto, em plena Serra da Mantiqueira, o frio já doía às quatro da tarde, imagine à noite...

Passeamos pelo sítio, vendo a roda d'água e a criação de trutas, tirando idéias para nossa própria casa, entramos no quarto e tomamos banho enquanto o frio permitia. Depois de anoitecer, cerca de cinco e meia, a escuridão era tamanha e o frio bem forte que fomos prá cidade encontrar algo quente prá comer.

Aonde???? Seis horas da tarde e tudo fechado em Passa Quatro. Perguntando, descorimos que só abriam depois das sete, oito horas, e a gente morrendo de fome... Fomos à estação de trem, onde a lojinha do Marcelo estava aberta e ficamos jogando conversa fora lá, comprando alguns gêneros, digamos, alimentícios... Doce de leite, queijo, goiabada, só coisas de primeira necessidade, sabem como é....

O primeiro restaurante que abriria seria o Bella Napoli, então ficamos de vigia bem na porta e na hora que o garçom abriu a porta a gente correu prá dentro e já foi pedindo massa!!!

Comida gostosa, cidade já conhecida de viagens passadas, sono chegando, barriga cheia, voltamos prá Tia Ana e para os braços de Morfeu. Com todos os quatro cobertores que havia no quarto!

 

dia 25 - Passa Quatro a Paraty

Meu aniversário! Dia de meus trinta e seis anos e de completar a estrada real. O dia muito claro, mas com muito frio, nos animava a fazer o trecho, já conhecido, voltando para terras paulistas por um tempo e entrando em terras cariocas.

Estrada sinuosa, mas tranqüila, chegamos em Cunha e almoçamos por lá mesmo. Nossa única preocupação é de que a famos estradinha Cunha-Paraty permitisse a passagem de carro. Preocupação rapidamente aliviada na cidade, onde todos disseram que a passagem está aberta.

Continuamos pela estrada até a pousada São Tomé, onde tínhamos ficado numa páscoa anos atrás e após passar a divisa São Paulo-Rio, começamos a percorrer os 9700 metros de terra na descida, trecho famoso de estrada, tal qual um purgatório para se chegar a Paraty, apresentado a mim há oito anos atrás no meu batismo de mergulho, às duas da manhã e sem estepe. Desta vez foi um pouco mais agradável...

Neste trecho encontramos um ciclista que fazia o mesmo percurso que a gente, com uma pequena diferença : saíra no dia 29 de abril de Diamantina e estava chegando somente hoje em Paraty, após 27 dias de pedal. Que coragem...

Em Paraty, conseguimos a mesma pousada Marendaz do meu batismo de mergulho, deixamos as coisas lá e fomos bater perna. Na praia do Pontal, rindo dos cachorros que insistiam em roubar os pertences dos turistas estrangeiros lá, sob um sol delicioso, fizemos um brinde ao meu aniversário e à Estrada Real, que acabáramos de completar. Tarde maravilhosa, cidade maravilhosa, humor maravilhoso, tudo estava bem. Estrada agora, só prá voltar prá casinha...

Passeamos pela cidade, muito simpática, até anoitecer. Voltamos, tomamos um bom banho e saímos novamente para jantar e para ver a Festa do Divino. Esperamos a procissão em uma rua e eles passaram por outra... Corremos atrás, bem a tempo de vê-los chegar na igreja ( na verdade, uma tenda, já que a igreja está em reforma ), tiramos várias fotos e fomos comer uma peixada em um restaurante que não foge à inconveniente regra dos restaurantes de Paraty: couvert artístico. Nada contra, se você tiver opção, mas todos têm seu artista que toca e cobra enquanto você come. Chega a ser chato... Prá gringo deve ser interessante, pelo menos...

Comemos uma peixada caiçara deliciosa e voltamos prá dormir, porque o frio, mesmo no litoral, estava forte. Pedimos mais um cobertor e dormimos tão rápido que sábado chegou rapidinho.

 

dia 26 - Paraty

Após uma noite com muita muvuca na pousada. Três da manhã e gente falando alto, cinco da manhã e gente falando alto... O sono obviamente não foi tão bom, então, levantamos e tomamos o café da manhã simples, mas gostoso e fomos bater perna na cidade.

A Mon tinha visto uma boneca feita de cabaça muito bonita, que chamamos carinhosamente de "bunduda" e fomos lá na Casa do Artesão para comprar. A decepção foi que ela estava com broca, cheia de buraquinhos dentro e dava prá ver os bichinhos fazendo o trabalho de estragar a peça. Avisamos o vendedor, ele considerou a peça condenada e retirou da prateleira de venda. Quando passamos lá novamente, ele tinha recolocado a boneca para vender, uma falta de caráter e desreipeito com o turista que não deveria haver nesta cidade tão bonita...

Passamos o resto da manhã comendo aipim na praia, meio dia trocamos de pousada, já que tínhamos reservado outra para este dia e, esquecendo o travesseiro da Mon, fomos ao Parque Hotel Perequê.

Acomodados no novo pouso, a Mon resolveu tirar um cochilo e eu resolvi resgatar o travesseiro. Voltei à pousada Marendaz e já tinham separado ele prá mim. Resgate heróico concluído, voltei e fomos achar alguma coisa prá comer na cidade.

No máximo sete minutos caminhando beira rio, chegamos ao centro e comemos no Restaurante do Abel um filé gostoso e passeamos o resto da tarde numa cidade já cheia. Anoiteceu e voltamos para o hotel, pensando se sairíamos ou não à noite com a cidade tão cheia assim.

A razão da cidade cheia era que haveria um show do Raça Negra e tinha fã de todas as cercanias para assistir. Como a gente não era fã, fomos tomar um caldo gostoso perto da igreja e na volta vimos um artista fantástico que, com spray, criava em minutos paisagens impressionantes. Cobrava R$ 25,00 cada quadro e deve ter vendido tudo até o fim da noite. Fascinados, ficamos lá um bom tempo e decretamos o fim do dia, voltando prá dormir.

 

dia 27 - Paraty a Sorocaba

Dia de voltar prá casa, sem pressa. Nem fomos novamente à cidade. Tomamos um café delicioso no hotel, que não parece com hotéis convencionais. São chalés distribuídos em uma grande área verde, com piscina, sauna, etc, tudo bem arrumadinho e limpo. Estão de parabéns! Mesmo sem fazer a Estrada Real, é um lugar prá voltar...

Voltando prá Sorocaba, esperamos cerca de meia hora para sair de Paraty, pois havia ocorrido um desmoronamento e as pedras interditaram a estrada. Seguimos por Ubatuba, depois Caraguatatuba, subimos a Tamoios, com a Mon dormindo no banco de trás e eu encarando sem muita vontade as últimas curvas da viagem. Almoçamos num Frango Assado e, já morrendo de saudades da casinha, chegamos por volta de quatro e meia da tarde em Mahassé, após mais de 2450 Km de estrada em nove dias.

 

Para quem quiser percorrer, a Estrada Real é tão grande e tão rica que reserva um caminho especial para cada um que encarar as curvas de Diamantina a Paraty. Há outros caminhos, que chegam em Angra, que passam por outras cidades, que são quase só de terra ou quase só de asfalto. Todos são o mesmo caminho, que levou o homem às Minas Gerais e que trouxe muitas riquezas de lá para Portugal.

São cidades, trilhas, montanhas que guardam um história bonita, que não se deixa ver tão fácil, mas que traz uma sensação de recompensa a cada igreja, a cada rua descoberta.

Diferente do Caminho de Santiago ( eu, que percorri os dois, posso afirmar ), a Estrada Real é testemunho da construção de terras nossas, numa maneira diferente das terras paulistas mas que, juntas, construíram e continuam construindo o que chamamos hoje de Brasil.