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- Campinas/SP – Esta Maria Fumaça, devagar quase parada...
01 de setembro de 2001

Este é um relato de como um inocente passeio de sábado pode tomar proporções inesperadas.
Tudo começou com a gente querendo passear de trem e descobrindo que quase não há mais linhas turísticas ou mesmo de passageiros; hoje, as ferrovias quase que só transportam coisas...
Então foi meio que um achado encontrar este trenzinho em Campinas, que de quebra era nada mais nada menos que um legítima Maria Fumaça e o passeio foi tomando forma.
Conversando aqui e ali, um foi falando para outro e logo éramos muitos, todos aspirantes a maquinistas! De uma simples chegada meia hora antes da partida do trem, tornou-se necessário reservarmos um vagão inteiro. Em questão de horas, suas quarenta e seis vagas estavam ocupadas e gente querendo ir! Trocamos por um carro de cinquenta e quatro lugares e menos de duas horas depois do tal telefonema estávamos novamente com gente saindo pelo ladrão... Vai gostar de trem assim lá em Sorocaba...
Tudo combinado, oito horas da manhã de sábado estávamos todos na frente da quarta igreja, escolhida como ponto de partida. Todos? Lógico que não... ainda faltavam alguns... Por informações erradas, o Éber não tinha chegado e o tempo já era escasso. Prá não ficar todo mundo sem trem, resolvemos ir sem ele, e depois ele que corresse na estrada prá nos alcançar.
O Amós ficou na frente da igreja porque iam pegar carona com o Éber a Patrícia, sua esposa e o Gustavo, seu filhinho. E vamos nós que estamos atrasados...
No meio do caminho, o Éber aparece na estrada falando que o Amós estava bem prá trás, pois vinha de moto. Esperamos um pouco na entrada de Campinas, mas nada do Amós...
Depois de ruas e ruas percorridas, chegamos à Estação Anhumas, próxima ao Shopping Galleria. Era lá que pegaríamos o tão almejado trem! Que estava lá a nos esperar. Falei com o Carlos, o responsável pelo passeio e logo já sabíamos que o vagão (quero dizer, carro...) número um era todo nosso.
O filho do Éber, o Guilherme, faria aniversário no dia seguinte e é óbvio que a farofa estava armada. Toda uma festa estava preparada sem que ele soubesse...
O Elineu e o Eliel, que já estavam em Capinas, chegaram à estação e nada do Amós. Falei com a Patrícia que o trem partiria no máximo às dez e quinze e eram dez e dez.
Dez e onze, dez e doze... Às dez e treze aparece a cabeça do Amós na estação e todo mundo corre prá saudá-lo. Na minha cabeça, a trilha sonora era a do filme Missão Impossível.
Dez e quinze e a gente entra na Maria Fumaça. Sob um apito altíssimo, o trem começa a andar e cada um procura um lugar melhor prá se acomodar. Os bancos podem ser invertidos e assim alguns viajavam olhando prá trás, outros prá frente, outros em pé e outros não paravam no vagão.
Primeira fala do Carlos: sobre a locomotiva e sobre os campos por onde seguíamos. Terras de cenário de novela, como a Terra Nostra (os solteiros procuravam a Paola, as solteiras o Mateo), as fazendas da região traziam à lembrança os tempos antigos, onde uma viagenzinha de cinquenta quilômetros era quase que uma expedição. A criançada estava pasma. Os olhinhos corriam o vagão, as coisas que passavam pela janela. Todos bambolejando junto com o vagão, que sacolejava muito com a bitola estreita daqueles trilhos.
Fui para o carro-restaurante e comprei alguma coisa para beber, já que o calor era grande. Uma boa parte do pessoal já estava lá, torrando seu parcos reais em coca-colas, tampicos e batatas chips.
Quando voltei ao nosso carro, tive a sensação de ter errado de vagão: bexigas azuis e vermelhas, que não estavam ali quando saí, enfeitavam todo o trem e prometiam uma festa inesquecível para o Gui.
A primeira estação que pararíamos seria a do Tanquinho, mas ela estava sendo restaurada pela Lucent, e no futuro será um museu da telefonia. Começavam a brotar desculpas para um retorno. Mais à frente, cruzamos a ponte sobre o Atibaia, o rio mais importante de Campinas. Talvez por ser o único...
Na estação Carlos Gomes, descemos todos e fomos aprender como funciona uma Maria Fumaça. O Carlos, com gosto de quem ama aquilo, discorreu sobre o vagãozinho do carvão, o tender. Falou sobre os apitos do trem, por onde a água passa e se transforma em vapor, onde estão os pistões, onde se guarda a areia na locomotiva para jogar nos trilhos molhados. Uma senhora aula! A locomotiva, apelidada de baronesa, fora construída na virada do século XIX para o XX. Quando queria fazer barulho, ninguém conseguia ficar perto... Numa das esguichadas de vapor, percebia-se claramente todas as cabeças subindo e descendo quinze centímetros, num susto daqueles!
Chegamos em Jaguariúna e foi a vez da surpresa para o Guilherme. O Carlos o chamou e permitiu que ele desse os apitos, dando ordem para a locomotiva partir. Foi a glória para o moleque! E foi só dor de cotovelo de muito marmanjo que estava louco para fazer aquilo. Tinha até gente marcando de voltar no seu aniversário só para tocar o apito... patético...
A estrada de ferro literalmente acaba em Jaguariúna e começamos o nosso regresso. Era hora de cantar Parabéns prá Você, comer bolo e refrigerante morno. A criançada já exausta e começando a ficar com sono. Cerca de duas horas e meia depois da partida voltávamos ao ponto de partida. Todo mundo feliz.




