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- Argentina - Primeira Viagem com Crianças
27 de dezembro de 2010 a 05 de janeiro de 2011

Desta vez, nossa volta à Argentina foi com duas malinhas sem alça: a Bia, nossa filha de um ano e pouquinho, e o Filipe, nosso sobrinho de dez anos.
Sabendo que, com crianças, a coisa ia ser punk, fomos preparados para que não saíssemos de uma zona de conforto. Entenda por zona de conforto 24 horas por dia de vigilância nas crianças, ou seja, conforto zero. Somos novatos nisso, você há de convir...
Escolhemos duas cidades que já conhecíamos, Bariloche e Buenos Aires, e pegamos passeios que não envolvessem: altura, velocidade, longas caminhadas, lugares que não se chegava de carro, etc. Em outras palavras, chato mas seguro.
Onde Ficamos
Em Bariloche, ficamos no Hotel Panamericano, um cinco estrelas com preço de três, com vista para o lago Nahuel Huapi e restaurante no próprio hotel. Ficamos lá de 27 de dezembro a 01 de janeiro.
O hotel é legal, com piscina, spa, casino, etc. e escambau, mas o serviço de quarto deixou bem a desejar. Outra coisa é que a internet é paga. Para um hotel cinco estrelas, é uma sacanagem...
O que tinha de muito bom: estava a 400 metros do centrinho de Bariloche, ou seja, tudo que a gente ia fazer no centro era a pé.
O preço foi também um achado: R$ 1800,00 por cinco noites para dois adultos e duas crianças ( R$ 360,00 por dia ) é um preço bem legal considerando que estava incluído a garagem para o carro e um belíssimo café da manhã!
Em Buenos Aires, a busca foi pelo hoteis.com, onde encontramos o Dolmen Hotel. Localização muito boa, quatro estrelas, preço bom e, se não fosse o fato de termos ficado no andar de fumantes ( descobrimos depois que poderíamos ter pedido para mudar ), teria sido perfeito. Mesmo com isto foi bem legal.
Localizado na esquina da Suipacha com a Santa Fé, está perto das comprinhas que a Mon queria e perto de vários cafés, prá gente jantar. Um café não tão farto quanto ao de Bariloche, mas muito gostoso, completa a festa. Pagamos R$ 1200,00 por quatro noites, o que foi um preço muito bom para o início de ano e na região central de Buenos Aires!
Tanto um como o outro podemos recomendar sem medo. E, claro, voltaríamos lá com certeza.
Meios de Transporte que Utilizamos
Em Bariloche, o negócio é alugar um carro. Para cinco diárias, gastamos cerca de R$ 700,00 por um Golzinho, com ar e direção. O trânsito é muito tranquilo e, como a carteira de motorista brasileira é válida, não se tem muita preparação prévia.
Duas únicas dicas: alugue um carro em locadoras conhecidas ( o nosso foi pela Avis ) e, nas estradas, trafegue sempre com o farol aceso. É uma lei argentina e dá multa.
Em Buenos Aires, taxi e remis. Um remis é um táxi onde se acerta o preço antes. É o melhor para ir e voltar do aeroporto ou a lugares mais distantes. Para lugares mais próximos, principalmente se você tiver um sentido mínimo de orientação, pode usar o táxi sem medo. O risco é o motorista ficar dando voltas mais só para te levar mais dinheiro, e é para isto o tal senso de orientação! Do centro até a Bombonera, fica em torno de R$ 13,00.
Como estávamos com duas crianças, decidimos não fazer nenhum trajeto a pé, exceto ir na Florida e voltar. Sozinhos, há três anos atrás, fomos a pé da Corrientes até a Bombonera!
Onde Passeamos
Em Bariloche, fomos ao Centro Cívico tirar foto com os São Bernardo ( alguns permitem que você tire foto com sua própria máquina, o que é bem melhor ), comer chocolate nas diversas lojas, uma mais gostosa que a outra, e tomar sorvete na Jalja, a melhor sorveteria que já fomos.
Ainda lá, fomos numa caminhada um pouco maior, até o museu paleontológico, escondido perto da prainha, entre o Nahuel Huapi e a Avenida 12 de Octobre. É bacanaço, principalmente para um moleque de dez anos que viu uma boca de tubarão prehistórica pela primeira vez e um fóssil de golfinho de sei lá quantos milhões de anos do tamanho de uma van. Vale a pena, mas vá de carro, que é um pouco longe do centro.
Fomos fazer o Circuito Grande, que passa por vários lagos andinos, como o Correntoso, o Espejo e o Traful. São cerca de 200Km de muita estrada de cascalho ( lá eles chamam de ripio ), passando por Villa La Angostura e Villa Traful. Uma certa dose de aventura, um piquenique na beira do lago, com direito a banho do Pipe ( a Bia bem que tentou, mas estávamos atentos... ) e beber diretamente de riachos formados pelo degelo das montanhas nevadas. Fantástico e, principalmente, dá prá levar crianças! Só se prepare para o roteiro mais aventureiro...
El Bolsón é uma cidade cerca de 130Km de distância de Bariloche. Coisa de uma hora e meia a duas horas de carro. O trajeto até que é bonito e a cidade lembra aquelas cidadezinhas do Alaska, com uma rua apenas. Dá prá comprar cerejas a preço de banana, comer empanadas na El Salteñita ( quase trinta sabores! ), tomar sorvete na matriz da Jalja, tomar cerveja e suco de morango e framboesa na cervejaria Bolsón e visitar a feirinha hippie. Pena que o meu amigo Huayras mancou comigo e nem deu as caras, senão tinha sido mais divertido!
O passeio no catamarã Cau Cau à Isla Victoria e ao Bosque de Arrayanes vale a tarde que você gasta. Isla Victoria é provavelmente o único lugar com sequóias no hemisfério sul e as vermelhas arrayanes inspiraram Walt Disney a ambientar o filme Bambi. Fora isto, ainda tem gaivota pegando biscoito da tua mão no barco. Foto para tirar e guardar!
Uma pena que não sabíamos disto, mas é possível brincar na neve em pleno reveillon! É só ir no Cerro Catedral que ainda há neve para a estação funcionar no alto verão. Da próxima vez, daremos uma conferida, prá esquiar de bermuda!!
Em Buenos Aires, a Mon queria mesmo era fazer as compras que ela não fizera em Bariloche e, apesar de ter muitos lugares para visitar, não há o clima aventureiro de Bariloche.
Fomos à Bombonera, eu o Pipe e a Bia. O tour pelo estádio é kitsch, mas imperdível. A cara do Pipe tirando foto com a taça Libertadores na mão é ótima.
Como com crianças a coisa não rola tão fácil, fomos a poucos lugares. Um deles, muito bacana e recomendável é o museu flutuante em Porto Madero, que é um navio, a Fragata Sarmiento, que foi transformada em museu. Fascinante, barato e divertidíssimo. Não se esqueça de levar a imaginação, caso contrário você só será mais um adulto bobo visitando um navio...
E tem a Feira de San Telmo, caso você esteja lá em um domingo. Um monte de antiguidades, bugigangas e cacarecos, numa praça como se fosse uma enorme feira livre. Para passear sem pressa, o que não é possível com uma pirralhinha querendo sua atenção o tempo todo. O Pipe ainda conseguiu se divertir e comprar um dragão para sua coleção de dragões que, naquele momento, resumia-se àquele dragão. Graaaande coleção, Pipe!!
Casa Rosada de passagem, catedrais nem pensar, teatros no way, shoppings e cafés. Isto é Buenos Aires with kids, hermanos!
Compras
Com o real valendo dois pesos argentinos, compras é algo inevitável...
Em Bariloche, compramos muita roupa para a Bia e só. Os chocolates subiram bastante de preço em três anos, mas continuam valendo a pena. E, claro, a anta aqui teve que comprar um carregador para a câmera, porque tinha esquecido em casa, no Brasil. Fora isto, é uma cidade mais para passear e comer do que para comprar.
No contraponto, Buenos Aires. Muitas opções de shoppings e, é claro, a famosa Calle Florida. É uma 25 de Março com sotaque portenho. Muitas lojas com preços convidativos, com destaque para a Falabella, uma espécie de Lojas Americanas de lá. Tem bastante coisa interessante, principalmente se você for mulher ( não é o meu caso ), adorar fazer comprinhas ( não também ) e não tiver que levar crianças junto ( nhééé... ). Para a Mon, que mandou nós três prá Bombonera, foi um deleite.
Claro que, para a Mon, ainda havia uma última parada: o free shop argentino. Voltou com um sorriso de mais de nove centímetros no rosto e um rombo de 500 dólares no cartão. Ou seja, feliz!
O Que Comemos
Em Bariloche, a diversão é pedir carne de caça - javali, ciervo e trucha - não porque sejam uma delícia, mas porque comer fast food na Patagônia é mais sacrílego do que comer churrasco em restaurante vegetariano.
Na Patagônia se come muita parrilla, muito chocolate, doce de leite e sorvete. A gente gostava do suco de maçã da marca Cepita e a Mon ( já que eu não gosto ) curtiu prá valer os diversos sabores da Quilmes.
Chocolate em quase toda loja é gostoso, mas a Mamuschka tem um lugar especial no nosso coração como o chocolate mais gostoso de lá. O mesmo ocorre com a Jalja no quesito sorvete.
Em Buenos Aires, o legal é comer nos cafés, que são na verdade restaurantes. A gente ouviu falar do El Cuartito no programa do Anthony Bourdain e foi lá conferir a empanada. Lógico que a Bia fez o possível para que não fosse esquecida por um minuto sequer mas, apesar disto, a empanada ( assada, não frita! ) estava deliciosa.
O Pipe apostou que comia uma pizza sozinho e perdeu a aposta. Quem quiser saber o que ele teve que pagar pergunte prá ele, hehehe!!
E, desta vez, o prêmio Almoço Farto em Buenos Aires vai para o Siga La Vaca, em Porto Madero. Com cerca de R$ 32,00 por pessoa, você tem direito a comer o quanto aguentar de carne ( não é rodízio, você vai lá e, se quiser, só come chorizo ou costela! - os churrasqueiros já conhecem os nomes pelos quais os brasileiros chamam os cortes de carne, então, não se avexe... ), escolhe do quê eles vão encher a jarra de um litro que você tem direito ( a minha de pomelo, a do Pipe de Coca e a da Mon de chopp) e ainda reserva um espaço prá uma sobremesa deliciosa, escolhida na carta. Claro, se você quiser comer do buffet, pode. Só não espere encontrar arroz...
Crianças
Olha... Viajar com crianças exige uma boa dose de logística, duas de desapego e umas dez de paciência. As dicas que aprendemos na marra variam, desde o vestuário até o que comer.
Para bebês como a Bia, papinha Nestlé está fora de cogitação. Se possível leve do Brasil. Lá só tem uma tal de Gerber que é insossa de tal modo que só o estômago de avestruz do Pipe curtia comer depois que a Bia não queria mais. Quando ela voltou, a Mon preparou uma comidinha caseira que dava gosto de ver o bichinho estalando a língua de tanta satisfação de estar comendo noamente algo com sabor. Nos hotéis é complicado pedir para preparar, então se prepare porque isto será provavelmente uma dor de cabeça para você.
Levar sobrinho é outro tipo de problema. Tem que levar uma autorização dada pelos pais garantindo que você não está sequestrando o moleque. Esta autorização tem que ter firma reconhecida em cartório, portanto, não deixe para última hora!
Roupas: esperávamos um pouco de frio, principalmente em Bariloche. Em vez disto, um calor do cão fez com que a gente dormisse de janela aberta, porque lá os hotéis não têm ar condicionado, só calefação.
Remédios: leve tudo do Brasil, sem dó. Quanto a antibióticos, não faça como a gente que demorou mais de dez dias para comprar e teve que conseguir outra receita.
O lado bom de levar bebês é que você fura tudo quanto é fila no aeroporto. Isto é ótimo, principalmente nos dias que você vê aquela fila de dois quilômetros nos aeroportos argentinos e você é chamado para oficialmente furar aquela bicha, como diriam em Portugal..
Em Bariloche, pode relaxar, mas em Buenos Aires, combine com eles - pirralhos de dez anos - como se comportar na rua. O Pipe tem dez anos mas tamanho de treze, então, é fácil superestimar o moleque e achar que a cabeça acompanha o tamanho. Não é bem assim... É uma criança de dez anos que precisa ouvir mais de uma vez o que você quer dele. Senão, o tempo fecha e o passeio deixa de ser divertido. Fazendo isto, é só dar umas refrescadas na memória dele de tempos em tempos que o resto se resolve.
Dicas ( bagagem, roupas, etc. )
Algumas dicas finais que nos passaram ou aprendemos na marra que, muitas vezes, são a diferença entre a diversão e o inferno na terra...
Bagagem: Cadeado é imprescindível. Feche sua mala e guarde a chave na bagagem de mão. Poupa você de muita dor de cabeça.
Outra coisa é colocar uma fita de uma cor bem chamativa amarrada na bagagem. Facilita prá caramba na hora de localizar suas coisas na esteira de bagagem.
E o mais legal, se você conseguir, é levar uma mini balança para checar o peso das malas. Eu comprei a minha pela internet e aguenta até 45Kg. O limite de peso é 20Kg do Brasil prá lá e de lá pro Brasil, mas é só de 15Kg para os vôos domésticos, tipo Buenos Aires a Bariloche. Isto quebra a perna de um monte de gente que entope a mala em Bariloche e depois tem que pagar excesso de bagagem.
Pese sua mala antes de ir para o aeroporto e, numa emergência, repasse um pouco das coisa mais pesadas para a bagagem de mão. Além é claro de evitar comprar coisas em Bariloche que possam ser compradas em Buenos Aires. São cinco imensos quilos de diferença...
Roupa: é um problemão, porque o clima tá de matar. Passamos um calorão em Bariloche, mas o pessoal falou que uma semana antes havia nevado em El Bolsón. Então, mesmo correndo o risco de não usar, leve um bom agasalho porque quando chega o frio, ele vem prá machucar. Se ventar junto então, credo!
Quanto aos passeios, fuce bastante na internet, sem dó. Há inúmeras opções de diversão, independente da configuração que você vai ( sozinho, casal, família, familiona, etc. ). Há opções para todos os gostos, mas sempre a opinião de quem já foi é melhor do que as dicas das agências.
Por último, deixe no Brasil o preconceito de argentino é metido. Na sua imensa maioria, é tudo gente boa que quer fazer da sua estadia no país deles a melhor possível, para que você volte mais vezes.
Tente falar o espanhol ( ou castelhano ), mesmo que apareça micos na sua fatura. É uma maneira muito divertida de aprender outra língua e de se desestressar. Além disto, todo "nativo" gosta de ser valorizado e falar ( ou tentar falar ) o idioma deles é uma gentileza sem tamanho. O Pipe, em dez dias, já respondia com um "si" toda vez que perguntávamos alguma coisa.
O povo de Bariloche é mais tranquilo, enquanto que os portenhos são mais irritados. Mesmo assim, dá prá se divertir com todos. Pergunte ( ou pregunte ) o que quiser. Eles vão tentar entender seu portunhol e facilitar sua vida.
Se você nunca foi, vá num tango. Tome cerveja e coma chocolate artesanal. Se houver a oportunidade, coma um churrasco/parrilla a moda paisana, que é feito com o fogo na terra e o espeto enfiado diretamente no chão. Viagem é prá isto, sem não houvesse descobertas, iríamos prá outro lugar, ou alugaríamos um filme.
Ah! A Mon resolveu voltar em julho prá Buenos Aires, ou quando o creme da Lancome acabar, o que acontecer primeiro. Espero juntar mais umas milhas antes disto prá baratear a viagem, mas desta vez, a Bia fica com a vó.

















