Caturro 2006 - 03 - Iperó/Boituva a Cerquilho

20 a 22 de outubro de 2006

Sexta, dia 20

Os barcos e caiaques já tinham sido levados para lá e agora era a nossa vez. Desde a última etapa, o grupo consolidara um nome, Caturro Navegantes, e aprendera muita coisa que com certeza aplicaríamos nesta etapa...

Ao todo, 21 caturros e caturras: Eduardo e Monserrat, Dito, Barroso, Zico, Gugo, Mário e Eliane, Guilherme, Macarrão, Alcir, Dimaroh, Armando e Sílvia, Geraldo (Gualdo), Beto, Matielli, Zé Garcia, Constança e Callipo e o Sérgio. Todos não vendo a hora de começar a remada...

Entramos no ônibus com destino ao condomínio Solaris, ponto de chegada da última etapa, para assim que amanhecece o sábado, reiniciar a jornada do mesmo ponto onde a gente tinha parado em junho.

Chegamos lá e já estava o Mário que tinha ido com o caminhão levando os barcos à tarde e um pessoal da Icatu, uma ONG de Cerquilho que tinha planejado toda a logística desta etapa.

Um churrasco de cortesia da prefeitura de Iperó animou a noite, com a presença do prefeito de Iperó e da primeira dama, toda sem graça por, pasmem, estar vestida bem demais para a ocasião!

Comemos e fomos dormir para acordar bem cedinho no dia seguinte, mas a adrenalina estava tão forte em todos que poucos dormiram mais de três horas naquela noite...

   

Sábado, dia 21

Tinha gente acordando às cinco... "Será o Benedito?", gritou um. E não que era? O Dito tava ligando pro seu "benzão" às quatro da matina... Pouco a pouco, todos em pé, separando o que ia por rio e o que ia por terra, a gente inflando nosso duck, a reportagem do SBT por ali, conversando com o Macarrão e todo mundo com fome e do café ninguém sabia.

A hora de zarpar seria às sete, mas acabamos saindo às dez prás nove. Pudera! O café estava digno de reis, com tudo do bom e do melhor prá quem precisava de muita energia prá remar. Era suco de laranja e suco de uva, era torta de frango e de palmito, era café com leite e sem leite, enfim, era comida para nos dar muita energia para os vinte e tantos quilômetros rio abaixo que nos esperavam.

Enfim, barcos na água!!! Muita torcida para alguém cair na água mas todos estavam bem espertos e todo mundo, razoavelmente seco, começou a descida. "O pior naufrágio é não partir", já dizia Amyr Klink. Deste, escapamos com folga!

Pouco mais de dez minutos e todos já estavam ambientados com o remar. Em uma ponte a alguns quilômetros abaixo, a equipe do SBT finalizou a reportagem e nos deixou.

Conforme vamos remando para longe da parte populada, o rio se recupera. Agora, já está bem mais limpo e a explosão de vida recomeça! Bandos de biguás nos esperam em uma árvore e assim que aproximamos saem numa corrida engraçada sobre o rio até conseguirem voar. Peixes pulam a todo momento e as garças e os martins ficam só na espreita para conseguir alguma comida. Realmente, apesar do homem, a natureza ainda está lá. Que bom!

Conforme nos aproximamos da barragem, o rio se alarga e fica mais difícil de remar. Cada remada rende menos e menos e por pelo menos meia hora a gente não pode parar de remar que o barco pára mesmo... O irônico era ver churrasqueiras à beira do rio com meio metro de água, pois tinham sido construídas quando a barragem estava desativada e o nível do rio era mais baixo. Isto há cinco anos atrás...

E enfim, chegamos à Usina de Santa Adélia, que tinha rompido há décadas atrás e agora recentemente reconstruída, fornece energia à região. O principal atrativo era ver a "escada de peixe", que existia no meio da barragem para que os peixes pudessem subir o rio em paz. É uma escada que tem cada degrau furado, para que os peixes de couro passem por baixo e os de escama pulem por cima. Muito inteligente, ecológico e legal!

Para atravessar este último trecho, precisamos tirar todos os barcos da água e realizar a portagem até a parte de baixo da barragem onde o rio Sorocaba continua. Deu um trabalhão, mas o grupo está afiado e uns quarenta minutos depois já estávamos descendo o rio.

Então, enfim, o bairro de Americana, em Tatuí, 25 quilômetros rio abaixo do nosso ponto de partida! Hoje não tem mais remo!! Só um pouquinho de motor, pois o Guilherme resolveu fazer um agrado prá uns moleques que estavam por ali e queriam porque queriam andar um pouquinho de barco...

E toca tomar banho, descansar um pouquinho e se preparar para o jantar. E que jantar!!!

Depois de tanta remada, aquela comida caseira especial, com costela e tudo.... Saímos de lá empaturrados e com um sono de dar dó!

Antes de ir dormir, durante a comilança, entregamos as cartas dos prefeitos de Iperó, Sorocaba e Boituva para o representante de Tatuí, que era o Oscar, líder da ONG Alerta, que luta por preservar aquele trecho de rio. As correspondências caturras estavam em boas mãos...

E toca prá cama, porque hoje o dia foi longo!!!

   

Domingo, dia 22

Seis horas da manhã e o mundo começa a girar de novo... Acorda um, acorda outro e de repente, todos os caturros estão em pé e falantes como sempre. Menos o Mário, que não tinha voz nem prá dizer bom dia...

Café tomado e barcos na água, que hoje o trecho é mais longo! Alguns ficaram para participar da operação Rio Limpo, que acabou não ocorrendo a tempo. Daí, para os retardatários, resta remar mais rápido ou pegar carona com o barco a motor.

Sob a rodovia Castelo Branco nos reunimos novamente. E é hora de tirar foto, ligar pro benzão, descansar um pouquinho, ver o Wendell da Icatu aparecer mais uma vez do além e continuar a descer o rio.

Conforme o dia passava, o sol esquentava e o cansaço já batia. De vez em quando a gente pegava uma caroninha, agarrado aos barcos a motor para que o grupo não se desgarrasse demais.

Por falar em grupo, os Caturros Navegantes estão bem melhor que na etapa anterior! Ninguém muito à frente ou muito atrás. Todos se ajudando quando parávamos em algum lugar. Companheirismo e espítiro de equipe gostoso de se ver!!

Cada vez, o final da remada ficava mais perto... Das corredeiras prometidas, nem sombra, pois o rio subiu muito, quase um metro, e engoliu as corredeiras. O rio cada vez mais limpo e a natureza cada vez mais presente. O homem continua a fazer estragos, mas as aves e os peixes insistem em resistir...

Começamos a ver um outro rio Sorocaba. De cada casa ribeirinha, uma ou mais varas de pesca no rio. Às vezes tínhamos que desviar nossa rota para não passar por cima de uma linha! De repente, o Wendell deitado num banco acenando para a gente. Acho que tem mais de um, como na fábula da tartaruga e da lebre...

Última parada! Uma ponte construida de seixo rolado, indicava que o destino final estava logo ali, a poucas curvas rio abaixo. O Didico já estava feliz da vida, mais falante do que nunca, como se isto fosse possível e entusiasmado com a conclusão da descida.

Enfim, o Alambique do Cridão, nosso fim de jornada! Trinta e dois, quase trinta e três quilômetros rio abaixo do bairro Americana, já em Cerquilho. hora de comemorar e curtir mais um churrasco! Eitcha festa, sô!

Faltava só entregar as correspondências para o pessoal de Cerquilho, representados pelo Wendell e, claro, pelo Velho do Rio, um ambientalista quase folclórico da região que se comprometeu a descer o próximo trecho com a gente. Não só ele, como o churrasqueiro, o resto do pessoal da Icatu, o cachorro do vizinho, etc e tal. Parece que na próxima etapa haverá superpopulação de barcos no rio!

Por hoje é só, hora de ir prá casa e de um descanso merecido. Até a proxima, Caturros, rumo à foz do Sorocaba, em Laranjal Paulista.